top of page

Inquieta - Meu Intercâmbio na Europa

  • Foto do escritor: Laura Machado
    Laura Machado
  • 20 de set. de 2016
  • 3 min de leitura

É engraçado como você pode começar a cultivar uma parte importante de si mesmo sem nem perceber. Cinco anos atrás, quando fiz minhas malas e entrei no primeiro voo da minha vida em direção à Europa, tudo que eu via era uma fuga. Era isso que essa viagem significava para mim. Ar, depois de meses embaixo d'água. Ar, que eu vinha cobiçando e almejando durante quase meio ano de espera e preparação. Eu só queria liberdade. Só isso. Queria ser livre de mim mesma.

Não que tivesse algo de realmente errado na minha vida, não que tudo tivesse se resolvido assim que pisei em solo europeu. Mas nem era uma solução que eu buscava. Só uma pausa de dez meses em lugares interessantes e icônicos demais para a pressão que eu colocava sobre mim mesma ganhar.

Não precisei nem passar pelo detector de metais para perceber que tinha funcionado. Segurando firme à alça da bolsa que eu tinha tão bem planejado e preparado e sem largar do meu passaporte e do meu cartão de embarque, segui a fila das pessoas que iam para o terminal. Era inegável a sensação de vazio que me preenchia o peito - mais inegável ainda era o quão familiar ela era. Só a senti duas únicas vezes na vida. A primeira, quando fiquei de pé na calçada e assisti o carro dos meus pais se afastando e me deixando para trás no primeiro apartamento em que morei sozinha, um dia antes de começarem minhas aulas na faculdade.

Naquele dia, eu ignorei a sensação o melhor que pude, engoli o pânico que subia pela minha garganta e me convenci de que seria uma noite normal. Eu só estava sozinha. Só isso. E nunca tive problema algum em ficar sozinha. Ainda que precisasse calcular meu dinheiro e encarar as primeiras verdadeiras responsabilidades que já tive na minha vida, consegui ignorar naquela noite meu medo. E na seguinte. E mais algumas dezenas de vezes até ter me acostumado.

Quando senti meus ossos fraquejarem ao me despedir dos meus pais na frente do terminal internacional de Guarulhos, não consegui ignorar o quanto aquilo me assustava. Mas, diferente da outra vez, esse medo já não era algo ruim. Sim, absolutamente cada passo que eu dei até chegar ao que seria minha casa pelos próximos cinco meses foi aterrorizante. Mas eu sabia, no fundo, eu sabia que era o melhor tipo de medo que teria a chance de experimentar. Valia completamente a pena. Ficar de pé na calçada e sentir que São Paulo não era grande o suficiente para me esquecer de que estava sozinha valia a pena. Ter meu estômago revirando dentro de mim de nervosismo ao entrar no avião também. Valia a pena. Valia a fuga.

Os próximos dez meses, tão bem planejados e, depois, executados, foram os melhores da minha vida - e, em alguns momentos, os piores. Depois de meio ano sonhando com o que aconteceria e cinco anos desde então relembrando o que aconteceu, foi só agora que percebi a verdadeira razão de ter entrado naquele avião. Não era só uma fuga. Eu estava começando a cultivar um lado bem mais importante, bem mais essencial dentro de mim. Como é possível eu ter parado e relido meu próprio diário milhares de vezes e não ter percebido isso antes? Como é possível que eu tenha me sentado em frente a uma igreja em Viena e escrito uma cena inteira, com diálogo, com pensamentos e ações e, ainda assim, tivesse me passado completamente despercebida essa necessidade dentro de mim de escrever?

É engraçado como você pode começar a cultivar uma parte importante de si mesmo antes de conseguir entender que ela existe. Se em 2011 eu achava que essa viagem seria a melhor parte da minha vida pela diversão e o conhecimento que me esperavam nela, agora tenho certeza de que não poderia ser quem eu sou - ou ao menos almejar ser, - sem ter juntado toda a coragem possível e mergulhado de cabeça.

Para quem queria ar, eu ganhei algo bem melhor. Eu ganhei o resto da minha vida.



Se quiser continuar lendo, clique AQUI.

תגובות


© Design de Laura Machado | Criado com Wix.com

mancha8.png
bottom of page