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Retrato da Escritora Vista por Dentro

  • Foto do escritor: Laura Machado
    Laura Machado
  • 30 de mar. de 2016
  • 4 min de leitura

Quando você é adolescente, e até mesmo antes, tem a tendência a pensar que as coisas vão ser fáceis. Ou melhor, simples. Você vai ter que passar pela escola toda, depois o vestibular, que vai ser difícil. Com alguma sorte e muito trabalho duro (palavras dos seus pais), você vai entrar em uma faculdade. E estudar o que tiver escolhido. Vai se formar, começar a trabalhar e, daí pra frente, desenvolver a sua carreira.

Lindo. E não tem absolutamente nada de errado com a sua vida se desenrolar desse jeito. Pelo contrário, é o que todo mundo espera. Só não é o mais comum.

Vai que você consegue sim terminar a escola de uma vez, sem repetir um só ano? E vai que você passa no vestibular de primeira - e pode pular aquela etapa terrível de ficar refazendo cursinhos até conseguir passar,- vai que você entra na faculdade com a qual sempre sonhou? Vai que o curso é tão desafiador e emocionante quanto você imaginava? E a cidade então! Ainda mais incrível, ainda maior, ainda mais interessante! Vai que tudo funciona tão bem, que você ainda tem a chance de parar por um ano para viajar pelas cidades que costumavam só fazer parte de seu livro de História? Vai que você volta, termina os últimos anos, sofre um pouco, mas se forma, com um TCC que você tem vontade de carregar para sempre nas costas? Vai que consegue um estágio perfeito, com uma das mulheres mais importantes da área na qual quer trabalhar?

E vai que, depois disso tudo, você percebe que quer outra coisa completamente diferente?

A maioria das pessoas não passa só por obstáculos, mas por desvios também. E, por mais instáveis que eles possam parecer, por mais que lhe deem a impressão de que você nunca colocará os dois pés no chão e terá certeza de que está onde deveria estar, os desvios são a melhor parte da vida. Não só por acontecerem quase sozinhos, enquanto você está planejando outra coisa. Mas porque lhe mostram quem você poderia ser. São oportunidades que se abrem para você. São escolhas, opções, sonhos possíveis.

Eu poderia voltar a trabalhar com Moda. Afinal, é nisso que sou formada. Poderia fechar todos os arquivos das minhas histórias e focar cada hora do meu dia em alguma outra área. Me esforçar e criar outra carreira do zero. Talvez até uma menos instável.

Entretanto, uma vez que eu comecei a escrever, uma vez que aceitei o desvio, não conseguiria voltar atrás. Ainda amo o curso que fiz, cada segundo dele, do mais satisfatório ao mais desesperador. E faria de novo. Voltaria no tempo e faria de novo. Mas quem eu sou hoje, quem sou depois de desviar meu caminho na direção da escrita já não conseguiria trabalhar com Moda. Não conseguiria trabalhar com nada mais, aliás.

É engraçado, porque passei quatro anos na faculdade ouvindo o quanto era difícil vingar no ramo da Moda de verdade. Trabalhar na área, nem tanto. Mas realmente se sobressair, virar alguém importante, revolucionar alguma coisa. Praticamente impossível.

Só que escrever é ainda pior. E não para fazer sucesso, como no caso da Moda. Mas para conseguir pelo menos viver disso. Já poderia estar ganhando um salário um tanto razoável se estivesse seguindo a carreira de stylist ou o que quer que eu escolhesse na Moda. Mas acabei preferindo trabalhar de graça, escrever sem ter ideia se minhas histórias virarão alguma coisa algum dia. Escolhi mergulhar em um mundo, do qual eu não sabia nada, mas já sentia uma sede imensurável.


Algumas pessoas sabem navegar tranquilamente, mas escritores de verdade gostam mesmo é de se jogar ao mar. E de mergulhar em um oceano de ideias, das mais descabidas às mais realistas, escrevê-las do começo ao fim, e torcer para que alguém veja nelas a mesma beleza que nós.

Por mais instável que seja estar sempre na água, lutando para tomar ar e sobreviver, por mais que às vezes possamos sentir uma vontade enorme de voltar a colocar os pés em terra firme, nada se compara ao momento em que percebemos que alguém se jogou ao nosso lado, loucos para mergulhar também naquela história que nós criamos.

Ser escritor é complicado. Não é simples, nem fácil. E não é para qualquer um.

Mas é especial. É uma luta na qual vale a pena entrar. É lutar pelo que você acredita, pelos milhares de mundos que quer criar, pelos personagens que só existirão por sua causa, pelos leitores que te seguirão aonde você for. É se agarrar à boia e tentar sobreviver em alto mar, mas se recusar a voltar ao barco. É aceitar toda a imprevisibilidade e a completa instabilidade que vem de seguir essa carreira - e se recusar a tentar ser outra coisa.

Esse blog é mais do que um outro jeito que usarei para conseguir satisfazer essa vontade absurda de estar escrevendo sempre. É mais do que um jeito de mostrar que escritores se sentem jogados ao mar, tentando se agarrar a qualquer coisa, ao mesmo tempo que aproveitamos para mergulhar num oceano de ideias e sonhos intermináveis. É tudo junto. É um jeito de juntar minhas histórias, minhas opiniões e meus leitores em um lugar só. Aliás, um lugar só meu, que eu criei do zero, das cores, ao estilo, ao título.


É onde qualquer pessoa pode encontrar minhas histórias. É também aonde eu vou escrever resenhas dos livros, filmes, séries, músicas que me inspiraram- por bem ou por mal. Onde vou comemorar os aniversários dos meus livros, sonhar com realizações, contar sobre minhas experiências, comemorar os leitores lindos que já me acompanham!

Será como um diário mesmo, mas bem mais extenso. Porque diário de escritor é bem mais do que um relatório do que aconteceu no dia. É um mundo enorme, com fichas de personagens, desenhos de mapas de países inventados, esquemas de acontecimentos, planos e perguntas para os próximos capítulos e muitas outras incontáveis coisas. É uma mistura entre o próprio escritor e seus personagens, na qual é difícil dizer onde um começa e o outro termina. E tudo que me falam, todos os livros, as séries, as pessoas que cruzam meu caminho me influenciam e ganham seu espaço em alguma parte da minha vida, em alguma parte do que eu escrevo. O diário de um escritor é infinito.


Bem-vindos ao meu.

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