RESENHA: Ace of Shades (Foody, Amanda)
- Laura Machado
- 4 de out. de 2019
- 5 min de leitura
Sinopse:
Welcome to the City of Sin, where casino families reign, gangs infest the streets...and secrets hide in every shadow. Enne Salta was raised as a proper young lady, and no lady would willingly visit New Reynes, the so-called City of Sin. But when her mother goes missing, Enne must leave her finishing school--and her reputation--behind to follow her mother's trail to the city where no one survives uncorrupted. Frightened and alone, her only lead is a name: Levi Glaisyer. Unfortunately, Levi is not the gentleman she expected--he's a street lord and con man. Levi is also only one payment away from cleaning up a rapidly unraveling investment scam, so he doesn't have time to investigate a woman leading a dangerous double life. Enne's offer of compensation, however, could be the solution to all his problems. Their search for clues leads them through glamorous casinos, illicit cabarets and into the clutches of a ruthless Mafia donna. As Enne unearths an impossible secret about her past, Levi's enemies catch up to them, ensnaring him in a vicious execution game where the players always lose. To save him, Enne will need to surrender herself to the city... And she'll need to play.
O QUE EU ACHEI:
Antes de mais nada, acho bom deixar claro que Ace of Shades não é um livro ruim, nem de longe. Eu arredondei minha nota, porque a verdadeira é 3,5, e vou explicar direitinho tudo que gostei e tudo que não foi tão bom. O fato é que, apesar do livro ser legal e ter muita coisa interessante, ainda fica claro desde o começo que a escrita da autora e sua trama não estão no mesmo nível, por exemplo, de Six of Crows (livro com o qual este foi comparado). É simplesmente outro nível mesmo e, depois de ler os agradecimentos da autora, sei que não posso esperar nada realmente excepcional dela. Mas não me leve a mal! Um autor excepcional é coisa rara, então faltar um aqui não significa que o livro vai ficar péssimo. Ele é divertido mesmo do começo ao fim, me lembrou até um pouco Caraval (por causa da protagonista procurando alguém importante para ela e buscando pistas para isso), mas é mil vezes mais inteligente e bem pensado que Caraval. Ainda poderia ter sido melhor nesse quesito, as pistas foram todas interessantes, mas não se tornaram tudo que tinham potencial de ser.

Aliás, esse é o maior problema do livro. Potencial demais nas mãos de alguém que claramente não consegue aproveitá-lo inteiro. Não, não é do tipo de livro que vai te deixar revoltado (sabe aqueles que têm ideias incríveis, mas execuções péssimas? Este não chega nesse ponto), mas dá para que tudo poderia ter sido melhor. Os protagonistas, Enne e Levi, terminam o livro ótimos, mas tinham passado muito tempo incertos, como uma criação um pouco insegura que não passou firmeza. Por exemplo, não entendi a necessidade de fazer o Levi ser lord de uma gangue. Ele nunca teve confiança, liderança ou qualquer semblante de lord, então deixá-lo com esse título só me fez sentir que a autora ainda não dominava sua personalidade e pessoa. O romance desse livro foi uma coisa que quase deu muito certo, já que seu desenvolvimento foi praticamente inteiro bem feito, mas a autora fez algo que me incomodou no final. E pode ser que a próxima coisa que eu vá falar seja um pouco spoiler, então pule o resto desse parágrafo se você não quiser saber. Eu super, hiper, mega entendo enrolar romance e construir devagar, sou a maior fã. Mas quando ambos sabem o que sentem e sabem o que o outro sente e não fazem nada e ficam evitando ao menos se beijar, já passou do limite para mim. Já vi isso acontecer em vários livros, então vou pelo menos torcer para eu já não ter perdido o interesse no romance quando finalmente acontecer. A Enne, outra protagonista, também começou mega incerta, eu não soube o que pensar dela por mais da metade do livro, e seu desenvolvimento foi feito a tropeços. Nesse quesito, o do Levi foi bem melhor trabalhado, mesmo que a base da história dele tenha sido tão cheia de buracos. Aliás, tinha buracos na da Enne também. A relação dela com a mãe, por exemplo, ainda terminou como uma incógnita para mim e não cheguei a entender o que a faria realmente ir atrás dela, em vez de mandar alguém no seu lugar - ou ir com alguém, nem que alguém contratado. Ela praticamente cresce e muda de uma hora para outra, mas pelo menos quem ela se torna depois é uma personagem realmente interessante e que leva a um final muito bom. E sim, eu gostei mesmo do final, apesar de ele ter sido um pouco estranho em alguns sentidos. Quer dizer, logo depois do clímax tem um anti-clímax que a autora deve ter achado necessário para levar ao segundo livro, mas eu gostei das atitudes dos personagens ali e, nesse ponto, já tinha desenvolvido certo apresso pela história para querer continuar. A questão de voltagem e os talentos foram detalhes também que eu não estava esperando, mas que funcionaram muito bem! A promessa do que eles guardam para o próximo livro é ainda mais interessante! Só não tem como negar que esse livro não está no mesmo nível de outros como Six of Crows e O Último dos Magos. Até na narrativa é possível ver alguns probleminhas. Muita coisa no começo é mais falada do que mostrada, e isso acaba passando pouca credibilidade para tudo que está sendo explicado. O universo aqui, aliás, foi outro tropeço. Ele, por boa parte do livro, se mostra como sendo mais parecido com o fim do século dezenove, pelas roupas, o cabaret, os carros (que não chegam realmente a ser descritos), navios e cartas. Sei que a história não se passa no nosso mundo, mas é preciso tomar cuidado com certas coisas. As coisas que mais estranhei aqui foram as luzes fluorescentes e neons. Não consegui imaginá-las no mesmo universo de vestidos tão grandes que era possível esconder várias e várias facas por suas dobras. Também não entendi o que levaria a mãe da protagonista a escrever uma carta com urgência - que podia muito bem ser sua última vez falando com a filha - para ser levada para ela por navio, quando no último capítulo descobrimos que existem telefones!

Essa falta de consistência e solidez no universo sempre me quebra um pouco. A Enne vem de um lugar que a gente nunca encontra no mapa (ou melhor, na triste desculpa para um mapa que tem no começo do livro), o que já começou me deixando incerta sobre o mundo em que a história se passa, e aí eu encontro tantos objetos diferentes e de épocas diferentes sem qualquer contextuação assim e fico com mais certeza ainda de que esse universo foi mais aleatório do que precisava ser. Depois de ter tanta coisa para criticar, ainda fiz questão de arredondar a nota para quatro, porque o livro é mesmo divertido e tem detalhes ótimos nele - como o Levi ser bi e ter provas disso pelo livro, adorei! Pela segunda metade da história, dá para ver também que a autora já a está dominando melhor e tem partes que eu li como se estivesse em uma onda dentro da história, sem separar palavras, só absorvendo significados. Amo isso. E é por isso mesmo que eu ainda quero voltar para ler a sequência.
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