RESENHA: Jane Eyre (Brontë, Charlotte)
- Laura Machado
- 20 de ago. de 2019
- 3 min de leitura
Sinopse:
Jane Eyre é uma menina órfã que vive com sua tia, a sra. Reed, e seus primos, que sempre a maltratam. Até que, cansada do convívio forçado com a sobrinha de seu falecido esposo, a mulher envia Jane a um colégio para moças, onde ela cresce e se torna professora. Com o tempo, cresce nela a vontade de expandir seus horizontes. Ela põe um anúncio no jornal em busca de trabalho como governanta. O anúncio é respondido pela senhora Fairfax, e Jane parte do colégio para trabalhar em Thornfield Hall. Lá, ela conhece seu patrão, o sr. Rochester, um homem brusco e sombrio, por quem se apaixona. Mas um grande segredo do passado se interpõe entre eles.
O QUE EU ACHEI:
Esse provavelmente vai ser um dos livros mais difíceis de resenhar que eu já li. Por um lado, estranhei muita coisa, demorei para ler, achei de vez em quando a narrativa difícil (isso não é defeito do livro, é meu, mas preciso admitir ainda assim que não era um incentivo a continuar e deixou a leitura um pouco arrastada às vezes) e cheguei a pensar que só daria quatro estrelas por causa disso. Por outro lado, não me senti capaz de tirar uma única estrela da nota quando me lembrei do quanto esse livro me tocou e me emocionou. Desde o começo da história, quando Jane ainda tinha dez anos, já encontrei cenas que me fizeram chorar por sentir sua dor e outras que me deram orgulho de ela ser como era. Isso se repetiu durante a história. O que me fez amar o livro e ver como ele é brilhante foram as cenas em que eu ficava emocionada sem nem entender direito por que, sem qualquer prova explícita do que me tocava tão profundamente, a maioria delas com o Rochester, mas nunca por causa dele.

Era por causa da Jane, porque eu sentia o que ela sentia, mesmo que ela não dissesse diretamente o que era. Acreditei no amor dela pelo Rochester tanto, que mesmo sem eu gostar verdadeiramente dele, ainda o amava junto com ela e sentia vontade de abraçá-lo e confortá-lo sempre que ele aparecia. Ele, aliás, foi um pouco esquisito demais para mim. Eu gostava de seu sarcasmo, entendia suas armações antes de Jane (talvez porque as reconheça em mim mesma), mas ainda não sentia que ele era tão charmoso quanto eu queria que fosse. Só de isso não ter me impedido de me importar com ele e gostar sempre das cenas em que ele e a Jane interagiam, já diz alguma coisa. Diz que é mais importante existirem personagens humanos do que perfeitos ou agradáveis. Sei que Jane era uma prova disso desde o começo, mas eu a imagino linda, extraordinária como é. Sempre fui assim, nunca consegui achar feia uma pessoa de quem eu gostasse, ainda que pouco, e a Jane se provou maravilhosa logo no começo. Às vezes eu me incomodava com seu jeito de se submeter, mas eu o entendia como algo não passivo, e sim uma escolha dela. Ela é tão introspectiva e consciente de sua pessoa, tão sincera e observadora, que não dá para não se encantar com ela. Melhor ainda só o jeito que ela percebe como beleza é inútil e inferior a tantas outras coisas. Até quando eu estava pronta para me render a um final feliz, Jane veio para dar uma lição mais que maravilhosa e válida até hoje.

Confesso que, apesar de ter amado a história, a narrativa a partir daí me pareceu sem rumo. Eu insisti e li daí até o final no mesmo dia, mas foi mais por convicção de que momentos melhores tinham que voltar a aparecer. E, enfim, apareceram logo no final. Mas, ainda que não tivessem aparecido, só a lição de amor próprio, de respeito próprio e princípios que a Jane dá com suas escolhas já é maravilhosa. E, quando eu falo maravilhosa, digo absurdamente rara e preciosa. Do tipo que todo mundo deveria aprender, eu inclusa. Como disse, gostei muito da história, vou levar Jane para sempre no coração e por boa parte do livro, eu estava adorando tudo. Foi só a parte que li hoje que me cansou, e só alguns detalhes que me foram um pouco esquisitos e góticos demais. Ainda assim, a coisa mais incrível para mim é pensar que esse livro sobrevive há quase duzentos anos, que pessoas daquela mesma época puderem ler e aprender com ele coisas que até hoje muitas ainda não entenderam.
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