RESENHA: As Crônicas de Amor e Ódio (Pearson, Mary E.)
- Laura Machado
- 15 de ago. de 2019
- 12 min de leitura
The Kiss of Deception - Livro 1
Sinopse:
Tudo parecia perfeito, um verdadeiro conto de fadas menos para a protagonista dessa história. Morrighan é um reino imerso em tradições, histórias e deveres, e a Primeira Filha da Casa Real, uma garota de 17 anos chamada Lia, decidiu fugir de um casamento arranjado que supostamente selaria a paz entre dois reinos através de uma aliança política. O jovem príncipe escolhido se vê então obrigado a atravessar o continente para encontrá-la a qualquer custo. Mas essa se torna também a missão de um temido assassino. Quem a encontrará primeiro? Quando se vê refugiada em um pequeno vilarejo distante o lugar perfeito para recomeçar ela procura ser uma pessoa comum, se estabelecendo como garçonete, e escondendo sua vida de realeza. O que Lia não sabe, ao conhecer dois misteriosos rapazes recém-chegados ao vilarejo, é que um deles é o príncipe que fora abandonado e está desesperadamente à sua procura, e o outro, um assassino frio e sedutor enviado para dar um fim à sua breve vida. Lia se encontrará perante traições e segredos que vão desvendar um novo mundo ao seu redor. O romance de Mary E. Pearson evoca culturas do nosso mundo e as transpõe para a história de forma magnífica. Através de uma escrita apaixonante e uma convincente narrativa, o primeiro volume das Crônicas de Amor e Ódio é capaz de mudar a nossa concepção entre o bem e o mal e nos fazer repensar todos os estereótipos aos quais estamos condicionados. É um livro sobre a importância da autodescoberta, do amor, e como ele pode nos enganar. Às vezes, nossas mais belas lembranças são histórias distorcidas pelo tempo.

O QUE ACHEI:
Como muitas outras pessoas, eu resolvi ler esse livro depois de ver a trilogia em mil lugares diferentes. Normalmente, procuro várias resenhas antes de comprar um livro, mas esse resolvi ler sem nem saber direito do que falava e se as pessoas cuja opinião mais me importa tinham gostado. Para falar a verdade, de vez em quando fico tão curiosa com certas séries, que nem me importo se são realmente boas. Eu só quero ler todos os livros e saber o que acontece. E foi assim com essa. Só depois de já ter os três livros e começar esse primeiro que percebi que ele tinha desagradado muitas pessoas. No primeiro capítulo já, achei isso estranho, porque dava para ver que a autora escreve muito bem. Infelizmente, ter a escrita bonita e saber estruturar uma história são duas coisas bem diferentes, e ela deixou bem a desejar na segunda. Minha primeira crítica é uma que considero grave e é ao começo. Eu sou escritora também e sei que, quando temos uma ideia que nos deixa muito animados para escrever, nossa vontade é pular tudo que precisamos escrever antes e chegar direto nela. Aqui, a ideia principal era a Lia encontrar o assassino e o príncipe e não saber quem eles são - e a gente não saber também, apesar de que eu adivinhei e a revelação perdeu a graça para mim por isso. Tudo que acontece antes de ela conhecer os dois é mera preparação da história. Infelizmente, foi tão corrido, que parece que a autora escreveu só por obrigação, porque não conseguia se aguentar de ansiedade até chegar no que realmente era a base da sua ideia para o livro. O problema no ritmo ficou claro já aí, mas se mostrou outra vez depois da metade, quando o livro começar a ficar tão, mas tão lento, que eu realmente considerei largar e só vender a trilogia para comprar livros melhores. Essa é a minha segunda crítica, essa parte do livro que é tão arrastada e desinteressante, que cheguei a me esquecer de qualquer coisa que tenha gostado antes. Desde a revelação de quem é o assassino e quem é o príncipe até o final, a história ficou bem chatinha. O pior é que tinha cena interessante para ser explorada no meio dessa parte, mas eu já estava tão entediada que nem consegui me importar. O que tinha me agradado antes era de toda a questão de "não saber" quem era o príncipe e o assassino, mas até isso dá para ver que a autora não explorou direito. Ela não se arriscou nessa questão, não criou situações mais confusas, não brincou com a dedução do leitor. Essa foi a parte do enredo que mais tinha promessa e acabou mal fazendo o mínimo. Até o romance estava perto de ser bem interessante, mas acabou indo rápido demais, provavelmente porque a autora tinha a outra parte chata da história para contar e achava que valia mais a pena gastar páginas nela. Que erro. Aliás, preciso dizer que isso da enganação, da Lia e dos caras fingindo serem outras pessoas, foi feito bem nas coxas. A Lia, para alguém carregando um segredo bem enorme, não fez questão de mentir quase nunca, disse o nome verdadeiro do seu irmão, e, pior do que tudo, não desconfiava de ninguém! Para alguém que fugiu do rei e colocou dois países praticamente em guerra, ela não deveria suspeitar de atenção demais, de interesse demais? Essa parte da história, que ainda foi a minha favorita, poderia ter sido maravilhosa, incrível e - a qualidade da qual mais senti falta, - inteligente. E foi só o básico. Tem vários outros detalhes que me incomodaram. Um deles é a tendência enorme da autora de falar as coisas em vez de mostrar. Ela fez isso bem mais no começo do que no final, mas ainda apareceu muito o livro inteiro e isso ajudou a história a ficar bem superficial. Outra coisa foi que a criação do mundo até agora está bem mais aleatória do que interessante, mas isso eu deixo para ela desenvolver nos próximos livros. Outra coisa que me incomodou foi a Lia. Ela era bem incrível na maior parte do tempo, mas às vezes caía no básico de "garota super incrível e super poderosa que conquista todo mundo e é melhor do que as que só se importam com roupas (o que todos aparentemente acham que todas as princesas do mundo são)". Nessas horas, ela virava só mais uma para mim. Sua criação também foi bastante superficial. Ela até teve certo conteúdo, mas eu esperava uma personagem espetacular (em questão de complexidade, não de ser perfeita) e ela é um pouco maleável demais para isso. A maioria dos outros personagens também são bem superficiais, e até mesmo Rafe e Kaden não conseguiram serem explorados pela história como poderiam. Não consigo honestamente dizer que me importo com qualquer um deles.

A impressão que eu tive do livro é que seu enredo foi bagunçado e que serve basicamente para levar aos próximos. Sim, ainda tenho muitas expectativas para os próximos, espero que eles consigam me provar que essa trilogia vale a pena sim! Para ser honesta, eu perdoaria um enredo mais incerto nesse primeiro livro se a leitura não tivesse parecido inútil durante uma boa parte dele. E não adianta falar que é porque a escrita é "cheia de detalhes", porque ela não é. A narrativa se enrolou, simplesmente. Eu gosto de detalhes, estilo Outlander, Passenger e até Game of Thrones. Não me incomodo também com personagens que passam páginas inteiras tentando desenvolver um pensamento sobre algo específico (como em Vestígios do Dia, um dos livros que li antes desse). O problema aqui é que a narrativa se enrolou, perdeu propósito e deixou a história arrastada. E, não, isso não foi muito legal, o livro não chega a ser ótimo e tinha muito em que podia melhorar. Mas não é um livro ruim e o que me faz ter esperanças dos próximos serem bons foram todas as vezes em que a Lia se mostrou como uma personagem forte ou a autora teve a chance de provar que sabe descrever cenas bem. Espero que a partir do segundo livro o enredo da trilogia esteja melhor definido e que não me faça sentir que a autora ainda não sabia direito aonde queria chegar. Quer dizer, o terceiro livro tem quase setecentas páginas. Seria simplesmente triste ter que ler até o final dele para descobrir que toda a promessa dessa trilogia nunca chegaria a se tornar realidade. Aliás, eu acho que essa capa está toda errada para a história. Não combinou com nenhum momento, e estou tentando entender o que levou a editora a achar que encaixava. Até o título é um pouco aleatório.

The Heart of Betrayal - Livro 2
Sinopse:
Em The Heart of Betrayal — Crônicas de Amor e Ódio v.2, Lia e Rafe estão presos no reino barbárico de Venda e têm poucas chances de escapar. Desesperado para salvar a vida da princesa, Kaden revelou ao Vendan Komizar que Lia tem um dom poderoso, fazendo crescer o interesse do Komizar por ela. Enquanto isso, as linhas de amor e ódio vão se definindo. Todos mentiram. Rafe, Kaden e Lia esconderam segredos, mas a bondade ainda habita o coração até dos personagens mais sombrios. E os Vendans, que Lia sempre pensou serem selvagens, desconstroem os preconceitos da princesa, que agora cria uma aliança inesperada com eles. Lutando com sua alta educação, seu dom e sua percepção sobre si mesma, Lia precisa fazer escolhas poderosas que vão afetar profundamente sua família... e seu próprio destino.
O QUE ACHEI:
Que série mais sem graça, meu deus. Para uma história que é sobre reinos, guerras, assassinos e amor, esses livros andam bem superficiais e batidos. Esse é um pouco melhor que o primeiro, só porque eu não cheguei a ficar tão entediada, mas é bem pouco mesmo. The Heart of Betrayal tem um problema enorme que me deixa bem revoltada com a autora e provavelmente significa que eu nunca mais vou confiar em livros dela. E vai ser dele que eu vou falar primeiro. Eu não escrevo livros do mesmo gênero que ela, mas minha pouca experiência como escritora me ajuda a perceber falhas bem grandes nesse. Eu o li em dois dias, duzentas páginas só no primeiro e duzentas e setenta no segundo (li a versão em inglês), e uma das coisas que me fez continuar lendo e insistindo é que eu estava esperando alguma coisa acontecer. Mas nada acontece nesse livro. Nada. Na. Da. Quando vou escrever um livro novo, logo que tenho a ideia, começo a separar acontecimentos, ligá-los por setas e planejar a história assim. Não são todos os acontecimentos de um livro, são só os principais, que vão incitar outros ou pelo menos outros pensamentos. Se eu tivesse que sentar e separar os acontecimentos desse livro aqui, provavelmente pularia de "Lia chegou em Venda" para as últimas cem páginas de uma vez, porque absolutamente nada que acontece antes faz qualquer diferença. É tudo uma grande espera, cheia de pequenos e minúsculos detalhes que são, na sua maioria, bem irrelevantes, quando não levaram mais tempo e atenção do que precisam. Minha vontade de falar desse livro é praticamente zero, para ser bem honesta. Tenho preguiça de pensar nele e mais ainda de lembrar que o próximo tem setecentas páginas e eu já não confio na autora para ter escrito só a quantidade que precisava. Tenho certeza de que ela enrolou em quase ele todo, só para ter qualquer acontecimento importante no final. Mas tem algumas críticas que preciso fazer. A primeira é sobre a Lia. Fico um pouco ofendida quando usam ela como exemplo de personagem feminina empoderada. A Lia fala muito, muito mesmo, mas ela faz pouquíssimo. Precisam salvá-la bem mais do que ela ajuda qualquer pessoa ou a ela mesma, e esse livro, que deu muito tempo para ela se infiltrar no governo de Venda, só teve umas três cenas em que ela ameaçou fazer algo para salvar a si mesma. O resto foi feito de espera, espera dela para que alguém fosse buscá-la. Ela também é extremamente ingênua, que aparentemente não aprendeu nada sobre seu próprio governo e que não tem a menor noção de como se aproximar das pessoas. Ela perdeu a oportunidade de seduzir seu inimigo, fosse romantica ou politicamente, para depois ser feita de peão no jogo deles. E é esse meu maior problema com a Lia. Ela fala muito, pensa nas coisas certas, mas é só um peão e nem chega perto de ser rainha ou de ter atitude. Esse livro não é tão inteligente quanto ele poderia ser. A autora usa muitos truques clichês desde o começo, consegui prever mortes, casamentos e tantas outras coisas só porque já tinha visto todas em vários outros livros, e teve até cena dele que eu tinha previsto lendo o primeiro. Não tem nada de surpreendente aqui, nada de original ou inesperado, nada de novo. E o que ela usa das ideias batidas é bem superficial ainda, uma criação de mundo aleatória e sem nada concreto que nunca faz sentido e tem revelações nada impactantes por isso.

Minha última crítica é ao romance. Eu comecei a gostar mais do Kaden nesse livro, mas, se a intenção da autora era me fazer gostar do Rafe, ela fez um ótimo trabalho em acabar com qualquer chance de sucesso aqui. Cada capítulo de narração dele só me mostrava mais o quanto ele é burro, arrogante e machista. Até seus companheiros seriam melhores para a Lia, quase até o Komizar (ou não), que teve um ótimo desenvolvimento até a autora resolver transformar ele em vilão de desenho animado. E é basicamente isso. Dei três estrelas só porque a escrita da autora é boa e pelo menos eu não tive raiva de nada na história. Três é a metade, porque é só isso que essa trilogia me inspira mesmo, mediocridade. Não traz nem emoções como raiva e ódio, só indiferença. Vou ler o próximo livro em seguida, porque é provável que eu nunca mais toque nessa trilogia se me deixar ler algo melhor.

The Beauty of Darkness - Livro 3
Sinopse:
A trilogia Crônicas de Amor e Ódio chega ao fim de maneira arrasadora. A história de Lia inspirou muitos leitores a embarcarem em uma jornada extraordinária repleta de ação, romance, mistérios e autoconhecimento, em um universo deslumbrante criado pela premiada escritora Mary E. Pearson, onde o poder feminino é a força motriz capaz de mudar e fazer toda a diferença no novo mundo em construção. Lia sobreviveu a Venda, mas não foi a única. Um grande mal pretende destruir o reino de Morrighan, e somente ela pode impedi-lo. Com a guerra no horizonte, Lia não tem escolha a não ser assumir seu papel de Primeira Filha, como uma verdadeira guerreira — e líder. Enquanto luta para chegar a Morrighan a tempo de salvar seu povo, ela precisa cuidar do seu coração e seus sentimentos conflituosos em relação a Rafe e as suspeitas contra Kaden, que a tem perseguido. Nesta conclusão de tirar o fôlego, os traidores devem ser aniquilados, sacrifícios precisam ser feitos e conflitos que pareciam insolúveis terão que ser superados enquanto o futuro de todos os reinos está por um fio e nas mãos dessa determinada e inigualável mulher.
O QUE EU ACHEI:
Pois é. Eu dei quatro estrelas para esse livro, não adianta procurar aqui uma frase dizendo que a nota verdadeira é 3,5 só. Ninguém está mais surpreso do que eu, mas tenho que admitir que gostei bastante desse livro. Não inteiro, ainda tenho críticas, mas é o melhor da trilogia, de longe. De bem longe. Na verdade, o livro começa como o segundo, no mesmo ritmo inútil e arrastado. Mas antes da metade ele começa a melhorar (na minha edição de capa comum em inglês, foi a partir da página 300). E eu não sei o que aconteceu com a autora, não sei se ela só editou dali para a frente, se ela estava enrolando antes propositalmente, mas o livro começou finalmente a ser contado como um livro deve. Ele continua cheio de detalhes, mas quase nenhum deles é inútil e aqueles repetitivos que aparecem de vez em quando ainda conseguem ser poucos e não atrasar o ritmo da história. A Lia finalmente virou uma personagem a ser admirada, a ponto de eu poder dizer que adoro ela e poder, sim, ser considerada um símbolo de personagem empoderada com orgulho. O Rafe continua chato, foi bem insuportável na primeira metade do livro, mas menos no resto, e o Kaden fica cada vez melhor! A Pauline voltou a importar, mesmo que sendo ainda muito coadjuvante, e estou surpresa também por gostar da maioria dos outros personagens (meu favorito morreu e nem vou dizer quem é para não dar spoiler, mas que azar que eu tenho, né?). Muitos dos diálogos nesse livro foram super válidos, e o desenvolvimento da relação da Lia com seu par romântico foi o melhor, na minha opinião (olha como sou boazinha, nem falo o nome dele para as pessoas que ainda não leram o primeiro livro não receberem spoilers! Haha). Além da primeira metade no mesmo ritmo insuportável de chato e arrastado, minha outra crítica é para a criação do mundo. Dei todas as chances para a autora, só estou cobrando agora no último livro, mas não tem como dizer que foi bem feita. Ela até tentou dar uma indireta sobre de onde poderia ter nascido esse mundo, mas isso foi ainda pior, porque tira todo o sentido que sobrava desse mundo meio medieval. Acho que a explicação que ela deixou sutil teria sido brilhante se ela tivesse investido nela desde o começo e o mundo fosse mais parecido com o que tinha sido antes ou pelo menos não fosse tão parecido com coisas de milhares de anos atrás. Estou sendo vaga, mas é só para evitar spoiler! Tem outras coisas que não me convencem nessa trilogia. O romance é uma delas. Nesse livro, ele convence, mas quando eu lembro de como nasceu do nada e super rápido, é difícil de levar a sério. Além disso, o assassino não é dos melhores, né? Suas habilidades são mais ditas do que mostradas, e ter que lembrar de suas ações no primeiro livro também ajuda a tirar a credibilidade do resto da trilogia.

Mas pelo menos eu consegui me divertir mais com esse livro. Gostei bastante dos últimos capítulos e gostei mais ainda de eles não serem a parte mais emocionante do livro, mas por terem conseguido ter mistério sem trazer intervenções divinas e ainda mais por manter o nível do que aconteceu antes. É o melhor livro da trilogia, sem dúvida, porque, apesar das várias viagens que acontecem durante sua história, nós não temos que passar por cada uma e ler sobre todas as posições nas quais Lia dormiu na sua barraca em cada dia de viagem a cavalo. É difícil recomendar esse livro, porque para chegar em uma parte boa, a pessoa vai ter que aguentar muitas páginas sofridas (ou seja, umas mil páginas difíceis de ler e arrastadas). Mas, se você estiver disposto, vá em frente, que o final é ótimo.
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