RESENHA: Vestígios do Dia (Ishiguro, Kazuo)
- Laura Machado
- 12 de ago. de 2019
- 2 min de leitura
Sinopse:
O mordomo Stevens, já próximo da velhice, rememora as três décadas dedicadas à casa de um distinto nobre britânico, lord Darlington, hoje ocupada por um milionário norte-americano. Por insistência do novo patrão, Stevens sai de férias em viagem pelo interior da Inglaterra. O mordomo vai ao encontro de miss Kenton, antiga companheira de trabalho, hoje mrs. Benn. No caminho, recorda passagens da vida de lord Darlington e reflete sobre o papel dos mordomos na história britânica. Num estilo contido, o narrador-protagonista acaba por revelar aspectos sombrios da trajetória política do ex-patrão, simpatizante do nazismo, ao mesmo tempo que deixa escapar sentimentos pessoais em relação a miss Kenton, reprimidos durante anos.
O QUE EU ACHEI:
Não tem muito por que eu fazer uma resenha para esse livro, quando seu autor e o fato de ele ter ganhado o prêmio Nobel já serem mais do que propaganda suficiente. Teria, se eu tivesse detestado e tivesse vindo aqui reclamar de como o autor nem merece tanto reconhecimento. Mas é impossível fazer isso, quando pude perceber logo no prólogo que ele merece e que até eu fiquei feliz de ver que não lhe foi dado por acaso.

Pessoalmente, adoro a história da Inglaterra, em especial esses detalhes, muito mais profundos do que parecem à primeira vista, dos criados e das pessoas que dedicaram suas vidas ao serviços de casas grandes como essa. Foi bem por isso que resolvi ler, e acabei me impressionando desde o começo com o quanto foi fácil me apegar ao Stevens, protagonista e narrador. É impossível não perceber todos os detalhes que seu orgulho e sua 'dignidade' o fazem evitar mencionar diretamente, e talvez seja por isso que gostei tanto da sua narração. Foi uma das mais características que já encontrei. Gosto também dele por reconhecer aquilo que eu esperava de um mordomo nessa situação, mas por ver também quão profundo chega essa dedicação ao serviço e mais ainda por vê-lo questionar, ainda que indiretamente (ele nunca teria a falta de educação de ser tão franco até mesmo com seu leitor, não é?), seu valor ao dar sua vida nas mãos de alguém que pode cometer erros a ponto de fazê-la ter sido quase em vão. Foi bonito, senão muitas vezes doloroso, ver como ele confiava em Lord Darlington para fazer a sua parte de melhorar o mundo, enquanto ele fazia a dele de facilitar sua vida nesse processo.

Esse não é um livro feliz, mas de reflexão, que consegue mostrar por lembranças e suas omissões muitos sentimentos que foram ignorados na busca de uma perfeição que, na minha opinião de quem nasceu no final do século vinte, não vale a pena. Mas foi extremamente interessante ver essa história contada por alguém completamente diferente de mim e que consegue chegar ao final com um pouco mais de esperança do que eu teria chegado. Não dá para negar que Stevens é tão nobre quanto tentou fazer sua vida inteira ser.
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