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RESENHA: Caraval (Garber, Stephanie)

  • Foto do escritor: Laura Machado
    Laura Machado
  • 5 de ago. de 2019
  • 6 min de leitura

Sinopse:

Scarlett nunca saiu da pequena ilha onde ela e sua irmã, Donatella, vivem com seu cruel e poderoso pai, o Governador Dragna. Desde criança, Scarlett sonha em conhecer o Mestre Lenda do Caraval, e por isso chegou a escrever cartas a ele, mas nunca obtivera resposta. Agora, já crescida e temerosa do pai, ela está de casamento marcado com um misterioso conde, e certamente não terá mais a chance de encontrar Lenda e sua trupe, mas isso não a impede de escrever uma carta de despedida a ele. Dessa vez o convite para participar do Caraval finalmente chega à Scarlett. No entanto, aceitá-los está fora de cogitação, Scarlett não pretende desobedecer ao pai. Sendo assim, Donattela, com a ajuda de um misterioso marinheiro, sequestra e leva Scarlett para o espetáculo. Mas, assim que chegam, Donattela desaparece, e Scarlett precisa encontrá-la o mais rápido possível. O Caraval é um jogo elaborado, que precisa de toda a astúcia dos participantes. Será que Scarlett saberá jogar? Ela tem apenas cinco dias para encontrar sua irmã e vencer esta jornada.


O QUE EU ACHEI:


Alguns anos atrás, quando comecei a escrever meu primeiro livro, o que eu mais queria era publicá-lo. Demorei menos de três meses para terminar de escrever e estava apaixonada por tudo que acontecia nele. Queria publicar o quanto antes, tinha listas de razões para as editoras me aceitarem e cheguei a ficar bastante decepcionada quando não aconteceu depois de tanto tempo (ou seja, mais alguns poucos meses). Hoje eu fico bem feliz de não ter conseguido tão rápido assim.



A quantidade de cenas mal feitas que encontrei quando reli meu livro foi assustadora, sem contar com os detalhes que precisavam de propósito e eu ainda nem sabia de onde os tinha tirado, os diálogos e clichês desnecessários que eu tinha colocado e tanta coisa que nem fazia sentido aparecendo e desaparecendo do nada. Eu ainda estava apaixonada pelo mundo do meu livro, pela essência da ideia, mas ela ainda não tinha a firmeza que um livro publicado precisa ter, que eu só conseguiria dar a ela depois de replanejar e reeescrever a história desde o começo. Essa firmeza também falta em Caraval. Desde pouco depois do começo, já comecei a ficar com essa impressão, essa de que Caraval tenha sido escrito e publicado rápido demais. A autora devia ter sido rejeitada, devia ter voltado para casa e reescrito e dado uma base mais sólida para tudo. Do jeito que foi publicado, parece que ela não tinha certeza de nada e ainda não tinha sido convencida pelos acontecimentos. Isso faz a história inteira não convencer a quem lê. Tenho certeza absoluta de que essa história teria sido excelente se tivesse sido reescrita e replanejada do zero antes da sua publicação. Às vezes, enquanto lia, pensei que talvez daria três estrelas, apesar de sentir durante o livro todo que ele merecia só duas. Decidi que o final me convenceria. E, meu deus, que final péssimo. Conseguiu acabar com qualquer esperança que eu tinha de que o livro me surpreenderia, de que eu me emocionaria. Eu não esperava muita coisa dele, só tinha lido resenhas o criticando, mas quis me arriscar. E não me arrependo, já deixo claro. Ele não é abismal, não foi uma tortura ler até o final. Só foi bem amador, quando não precisava ser. A começar pela construção do mundo. Ou melhor, pela falta dela, já que eu não tenho a menor ideia de como é esse mundo. Não tem mapa - ou lógica. Não tem nem uma sombra de firmeza sobre qual é esse mundo em que estamos ou que tipo de cultura ele tem, que tipo de roupa, tecnologia, ou o quê. Tem corsets, mas de que tipo? Daqueles usados no começo do século vinte, por mulheres que viviam com telefones, rádio e carros? Ou daqueles usados ainda nos séculos em que nem trem existia? Esse tipo de falha no mundo seria corrigido fácil em uma reescrita. A falta de firmeza aparece em tudo, para ser bem honesta. A descrição do mundo da Stephanie Garber é péssima em todos os momentos. Ela tenta criar um ambiente misterioso e mágico, mas o que ela consegue é manter seus leitores bem longe de se sentirem nesse ambiente. Lembrei bastante do livro Heartless, da Marissa Meyer, em que ela fala da Rainha de Copas. Lá, ela cria um mundo mágico, como a autora de Caraval tentou, mas consegue que ele seja sólido e crível. O de Caraval parece que vai desaparecer se você assoprar e é tão, mas tão aleatório, que eu comecei a nem ler direito as descrições ou nem fazer questão de imaginar o que elas detalhavam, mesmo que fossem de elefantes minúsculos voadores (sério). O pior é que, teoricamente, a protagonista Scarlett vinha de um mundo normal. Era para ela estranhar certas coisas que ela nem percebia direito (por exemplo, o elefante minúsculo voador). Para alguém que sonhou com o Caraval desde pequena, ela também não aproveitou nada da magia. Aliás, quando a atmosfera circense mágica e veneziana é mais forte em uma trilogia como Jovens de Elite do que aqui, é porque tá complicado. Caraval não me pareceu em nenhum momento um jogo mágico e de aventura, só um caça ao tesouro bem chato e irritante, para ser honesta. O menor dos problemas do livro, na minha opinião, foi a própria Scarlett, mas ela ainda foi um problema. Quase nunca me incomodo com personagens burros ou mimados ou quaisquer que sejam seus defeitos. Não faço a menor questão de protagonistas serem de um jeito exato e estou sempre aberta à personalidade deles. Mas, meu deus, a Scarlett era burra demais, de um jeito irritante até para mim. Ou seja, se você se incomoda com burrice clara e que faz a personagem ser inútil e manipulável do começo ao fim, não vai conseguir suportá-la. É difícil também pensar em todo o mundo à volta dela e as duas ou três ruas que ela explorou. E o final? O que dizer do final? Todo o mistério e toda a mística do Caraval se desfizeram. Fiquei esperando reviravoltas realmente intrigantes, e não daquelas que já foram usadas em livros de todos os gêneros, e nunca consegui. Pelo contrário, o que eu tive foi um bando de cena seguida que deveria me fazer sentir emoções das mais diversas e nunca conseguiram. A escrita da autora deixou absurdamente a desejar, sério. Mais de uma vez me peguei tentando entender se revelações tão importantes estavam aparecendo do nada, sem nenhuma tensão criada, como se não significassem nada. Foi tão estranho, que ainda não sei se o final foi feliz ou triste, se tudo se resolveu ou não. Juro, não parece ser possível tudo ter acabado tão superficial, mesmo que o resto do livro tenha sido exatamente assim, só uma ameaça da história na qual essa ideia poderia ter se tornado. A escrita da Stephanie Garber não é das melhores, mas é ruim principalmente em descrições. Ela tenta fazê-las serem mágicas desde o começo, dando à Scarlett a habilidade de ver emoções em cores. O problema aparece já aí, porque ela não quis deixar a protagonista com essa impressão do mundo criada por ela, ela realmente fala que é assim que ela vê emoções. E nem teria ficado tão ruim, se não tivesse aparecido o tempo todo, junto com metáforas sem pé nem cabeça, com sensações conflituosas, que só estão ali para a autora se fazer de diferente e boa escritora (falhou completamente). Na sua biografia, diz que ela ensina a escrever, e eu estou aqui torcendo para ela não ensinar mais ninguém a escrever desse jeito.


Não tem como eu dar uma nota maior do que duas estrelas, não quando a autora pegou uma ideia muito boa e não deixou que ela saísse do rascunho. Tudo que Caraval promete, ele deixa de entregar. Parece mais um jogo de tabuleiro, apesar de que jogar xadrez provavelmente vai ser mais emocionante do que ler esse livro. E, sim, estou sendo um pouco rígida com ele, já que nem foi tão tortura assim ler, mas não tem nada pior para mim do que um livro que parece que foi escrito em três meses e publicado logo em seguida, por um autor que não entende a beleza de esperar e trabalhar em cima da sua história antes de coletar recompensas. Falo por experiência própria.

 
 
 

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