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RESENHA: Trilogia Divergente (Roth, Veronica)

  • Foto do escritor: Laura Machado
    Laura Machado
  • 3 de ago. de 2019
  • 18 min de leitura

Divergente - Livro 1


Sinopse:

Numa Chicago futurista, a sociedade se divide em cinco facções – Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição – e não pertencer a nenhuma facção é como ser invisível. Beatrice cresceu na Abnegação, mas o teste de aptidão por que passam todos os jovens aos 16 anos, numa grande cerimônia de iniciação que determina a que grupo querem se unir para passar o resto de suas vidas, revela que ela é, na verdade, uma divergente, não respondendo às simulações conforme o previsto. A jovem deve então decidir entre ficar com sua família ou ser quem ela realmente é. E acaba fazendo uma escolha que surpreende a todos, inclusive a ela mesma, e que terá desdobramentos sobre sua vida, seu coração e até mesmo sobre a sociedade supostamente ideal em que vive.

O QUE EU ACHEI:


É estranho começar com uma crítica uma resenha de um livro que entrou para a minha lista de favoritos e que merece, sim, cinco estrelas? Eu adoro a ideia de Divergente, muito. Acho brilhante essa separação e todos os detalhes que vão aparecendo pela história. Acho incrível saber que alguém criou isso e essa é uma das razões para eu adorar distopias. Divergente consegue ter uma ideia muito única e muito atraente. Todo mundo quer se dividir e descobrir onde se encaixa. Mas, se você pensar bem, tem que concordar que essa ideia incrível é, afinal, inviável. Impossível.


Isso não me atrapalhou em nada a entrar no universo do livro e o abraçar completamente. Não fiquei lembrando de problemas enquanto estava lendo. Pelo contrário, dá para relevar logo no começo e ficar tão conectado com tudo na história, que esse detalhe nem vai importar. Mas preciso falar dele aqui. Como falei, a ideia é incrível, as facções são mega interessantes e tudo o mais, mas é impossível. É simplesmente impossível alguém encaixar em só uma. E a desculpa de que "é a característica que tem prioridade" não vale, porque as facções não deixam margem para alguém usufruir das outras e só usar a principal como prioridade. Eu mesma, que sei bem quem eu sou porque sempre fiz questão de saber, não conseguiria me encaixar em nenhuma nem de longe. Cada uma das características principais das facções não podem existir sem as outras, mesmo que sutilmente. No mundo real, seria raro encontrar pessoas que NÃO fossem divergentes. Mesmo assim, não é como se esse detalhe tivesse atrapalhado minha leitura. Eu já tinha visto o filme desse livro (anos atrás, quando saiu, acho), então não pude ter a experiência deliciosa de ficar surpresa com tudo que acontece. Mas, ainda assim, eu amei o livro. Adoro os acontecimentos, essa separação na sociedade, as cenas, os personagens, o clímax e todo o final. Amo o livro do começo ao fim e me diverti desde o primeiro capítulo. Tenho que admitir que me surpreendi foi com o quanto eu gostei do Quatro da Tris. Ele parece ter muito mais força como personagem do que ela, talvez só porque ele tem uma história já desenvolvida, enquanto estamos acompanhando a dela desde o começo, mas também porque eu gosto muito de ver uma pessoa bem resolvida que não se divide nas características pré-determinadas pelas facções. Mas a Tris também foi uma surpresa mega agradável! Fiquei inconformada com o quanto eu gostei dela, das suas fraquezas, da cena em que ela e o Quatro concordam que ela não é bonita, mas que é bem mais que isso. Ela cresceu durante a história como um livro com a base de jornada do herói precisa fazer com seu protagonista. A confusão dela, enquanto ela tenta descobrir quem ela é, é maravilhosa e impossível de não se identificar. Eu sou completamente diferente dela, mesmo (e olha que tomaria quase todas as mesmas decisões que ela tomou no teste), mas vê-la como humana, com suas dúvidas, suas fraquezas e suas forças foi lindo! É impossível não querer acompanhar sua trajetória até o final. Eu tive outro problema com o enredo também, na verdade, mas é bem pequeno. O livro só tem acontecimentos importantes e interessantes, mas o ritmo dele se perde um pouco no meio. A partir do momento em que eles passam para a segunda fase da iniciação, fica maçante. Quer dizer, maçante comparado com o que veio antes (e o que vem depois), não com outros livros. Parece que a gente não sai do lugar, porque já faz muito tempo que a vida da Tris fica presa no mesmo lugar. Mas, se você sentir vontade de desistir do livro, resista! O final é de tirar o fôlego!



Por último, só quero explicar mesmo minha nota, já que eu também encontrei defeitos na história (ainda que pequenos). Não dou nota cinco só para livros impecáveis e que mereçam ser usados como razões para seu autor ganhar o prêmio Nobel de literatura. Quando eu acho que um livro é bem feito, bem pensado e que me conquista do começo ao fim, que me faz terminá-lo com a sensação de que eu amo a história, dou nota cinco. Não importa quantas críticas eu faça ou quantos problemas encontre. Livros que me transportam para seu mundo e me fazem ler mais de duzentas páginas de uma vez (porque nada na vida real seria melhor do que eles) merecem cinco estrelas, ainda que estejam longe de serem perfeitos. E Divergente foi assim.


Insurgente - Livro 2


Sinopse:

Na Chicago futurista criada por Veronica Roth em Divergente, as facções estão desmoronando. E Beatrice Prior tem que arcar com as consequências de suas escolhas. Em Insurgente, a jovem Tris tenta salvar aqueles que ama - e a própria vida – enquanto lida com questões como mágoa e perdão, identidade e lealdade, política e amor.


O QUE EU ACHEI:


Só para deixar avisado, estou me esforçando para não dar nenhum spoiler para o primeiro ou esse livro nessa resenha e também vou mencionar outras trilogias do gênero distopia, mas não vou dar spoilers para elas, então não precisa se preocupar! Ah, e essa resenha vai ser grande. Esse foi livro sofrido. Depois de ter achado Divergente ótimo, cheguei nesse daqui toda animada, principalmente porque nunca tinha visto o filme dele (o que estragou um pouco os momentos mais surpreendentes do primeiro livro). E, apesar de Insurgente não ser um livro ruim, ele está longe de ser ótimo. Se eu fosse a editora dele, teria perguntado para a Veronica Roth se ela estava mesmo disposta a fazer seus leitores terem que sofrer por esse livro arrastado para chegar ao último. Não me espanta em nada o número de abandonos que estão marcados aqui, porque não foi fácil mesmo de terminar. Como eu disse, o livro não é exatamente ruim. Eu gosto bastante do jeito que a Roth escreve, como descreve os sentimentos da Tris e tudo e acho que ela criou situações um pouco interessantes nesse livro. O problema é que a história se tornou realmente maçante, desde o começo, só levando personagens de um lugar ao outro e criando uma intriga entre eles digna de novela (não é das piores, mas foi bem forçada). Esse foi um dos meus últimos problemas com esse livro, mas posso começar falando dele: os personagens principais, Tris e Quatro, não conversam! Eles não confiam um no outro, nem deviam estar do mesmo lado nessa batalha toda. Essa é uma das coisas que eu mais odeio em filmes, livros etc, personagens guardando segredos e mentindo para quem eles supostamente amam e em quem confiam. Primeiro, porque é um jeito muito manjado, tosco e sem imaginação de criar conflito entre duas pessoas. Segundo, porque isso dá uma lição muito tóxica para quem lê. Não existe isso de "mentir pelo bem de outra pessoa". Se você toma uma decisão, seja de ocultar algo ou mentir mesmo, por outra pessoa, você está declarando que se acha superior a ela e acha que tem o direito de tirar a voz dessa pessoa sobre algo que a interfere direta ou indiretamente. Isso não é amor e definitivamente não é confiança. E mentir porque a reação da pessoa poderia ser ruim é pior ainda, já que você deveria confiar que vocês dois têm o tipo de conversa que pode resolver qualquer reação ruim. Sim, eu sou uma leitora/escritora missionária quer que seus personagens e exige que os outros do mundo sejam honestos e conversem entre si e que reclama quando autores usam falta de comunicação como um problema válido. Dica: não é. E eu não faria parte da facção Candor/Franqueza, porque é claro que eu não falo a verdade para qualquer pessoa o tempo todo. E aqui vem minha primeira menção a uma outra trilogia distópica, Legend, da Marie Lu. Uma das coisas que mais me surpreenderam nessa outra trilogia foi a parceria que ela criou entre os protagonistas, June e Day. Diferente desse livro aqui e da grande maioria dos outros YA, ela criou dois personagens que confiavam um no outro, mesmo quando ainda não se conheciam tão bem, que não viam qualquer coisa como traição e confiavam que o outro tinha suas razões e não as manteria em segredo. Insurgente me deu vontade de voltar e reler a trilogia Legend. Honestamente, a pior parte do livro é a Tris. Eu amo ela como personagem e teve muitas, muitas vezes mesmo durante esse livro que eu senti de novo que amo sua personalidade e sua atitude, mas a autora se perdeu completamente aqui. Na minha edição (capa de papel e em inglês), tem alguns bônus no final e um deles é da Roth explicando um pouco sobre como ela pesquisou sobre luto. Acho mega válido ela ter pensado direitinho nessa parte, mas ela focou tanto no sofrimento da Tris, que ela se perdeu no resto. Primeiro, eu entendo que os pais da Tris são importantes, claro, principalmente depois do final de Divergente, mas ela foi criada em uma facção que não parecia deixar seus membros criarem tantas ligações afetivas assim. Pode não ter sido a intenção da autora, mas até o final desse livro, eu não consegui ver as pessoas da Abnegação como sendo carinhosas e íntimas de verdade da sua família, então sempre fiquei com um pé atrás dessa relação da Tris com os pais e essa adoração dela. Luto é bem diferente para cada pessoa, e acho importante abordar o jeito que a Tris reage a ele. Se a autora não a tivesse feito sofrer com isso em Insurgente, eu teria achado bem estranho. Mas ela sofreu durante as quinhentas páginas! Nem no primeiro livro ela começou e terminou do mesmo jeito, o que fez a autora transformar esse segundo em uma grande transição arrastada e repetitiva? No primeiro, ela crescia visivelmente de pouco em pouco, nesse, parece que ela está em um buraco do qual nem ameaça sair. Esse luto da Tris a levou a outra coisa, a um estado de espírito que também dominou o livro e que a autora provavelmente acha que dá para usar para explicar algo que eu já sei que acontece no terceiro, mas, na minha opinião, foi outra coisa que ficou repetitiva demais! Sei que é um assunto complexo e concordo que não deveria durar duas páginas e só, mas o livro todo? Existe um limite para um personagem ficar se lamentando antes que os leitores queiram desistir dele e, nesse livro, a Tris passou do limite umas trezentas páginas antes de acabar. O luto e esse estado de espírito da Tris a leva a tomar uma péssima, péssima decisão num momento da história (não sei com a autora pode não ter pensado que todo mundo iria achar essa a pior decisão do universo). Meu problema nem é a decisão, para ser honesta e aonde ela levou a Tris. Em questão de história, colocá-la nessa posição é bem interessante e traz interações necessárias para esse livro. O problema foi o processo da decisão (como se ele tivesse existido). Desde o primeiro livro, a autora vem dizendo que a Tris é inteligente, já que uma das suas aptidões é com a facção dos inteligentes, certo? Então o que a leva a tomar uma decisão idiota dessas? E eu não digo idiota no sentido inconsequente e perigosa, mas que não tem a menor lógica! Que tipo de pessoa inteligente sacrifica algo muito importante só pela palavra do seu inimigo? Não é como se o inimigo estivesse realmente abrindo mão de seu poder e controle sobre você, então como você pode confiar na "promessa" dele de que simplesmente vai parar de fazer o que está fazendo? Até o Tobias, que teoricamente não é inteligente como ela (pelo menos segundo seus testes) consegue ser mais esperto e criar o mínimo de um plano antes. E eu odeio isso, porque mesmo quando dizem que a mulher é a mais inteligente, não se prova em atitudes dela e o cara sai como o melhor. (Só amor pelo Tobias, vou deixando claro aqui.) Essa falta de inteligência da Tris, na verdade, contagiou praticamente todo mundo do livro. Sei que é um livro adolescente, mas não é um livro amador e nem todos os personagens dessa história deveriam ser ingênuos. Senti falta desde o começo de estratégias nessa história, daquelas maduras mesmo. Guerras, informais ou não, são como jogos de xadrez. É preciso ver vários movimentos a frente e considerar todas as possibilidades do que você e seu oponente podem fazer antes de tomar uma decisão. E você tem que conhecer seu inimigo, tem que entender suas fraquezas e compará-las com o que você tem de melhor, tem que estudar seus hábitos para prever o que ele vai fazer, não só analisar como a situação está exatamente agora. Tudo nesse livro é muito no instinto, com planos toscos e mal pensados. Faltou pelo menos um personagem um pouco mais inteligente nesse quesito, que evitasse que essa parte toda ficasse tão amadora. Aliás, isso dos dois lados dessa briga, mas principalmente do da Tris. Era isso que a autora deveria ter pesquisado, não a questão do luto. Luto é fácil de se imaginar, mas quase ninguém consegue ser um Napoleão da vida, nem mesmo no papel. Essa deve ser uma das minhas maiores resenhas, mas prometo que estou acabando! Queria falar aqui dos meus problemas com o enredo também. Muitas vezes, eu acho que um livro é chato porque não acontece nada, mas deu para ver por esse daqui que vários acontecimentos não significa que a história vai ficar menos maçante. Esse livro foi maçante, foi arrastado, foi repetitivo e ainda teve vários acontecimentos. A história muda de cenário várias vezes, o que era para ser mega interessante, mas acaba virando a mesma coisa sempre. A autora também colocou várias mortes aleatórias nessa história, que pareciam existir só para "impressionar" e definitivamente falharam nesse quesito. Ela também fez a Tris carregar a culpa por tudo, praticamente, e se transformar na maior mártir melodramática da vida, o que teria funcionado se não tivesse durado o livro inteiro.


O livro tem coisas boas, ou eu não teria dado três estrelas. Como eu falei, gosto da escrita, acontece bastante coisa e a autora teve a chance (e a aproveitou!) de nos mostrar as outras facções nesse livro. Além disso, quando eu achava que o livro ia acabar sem uma única informação nova para fazer o terceiro parecer interessante, ela apareceu. Eu fiquei um pouco confusa com essa revelação, na verdade, porque achei a informação um pouco aleatória, vaga e mal encaixada, mas estou guardando meu julgamento para o próximo livro, que vai ter a chance de explicá-la. Ah, a melhor parte do livro é o Uriah. Há. Não vou falar que escrever uma trilogia distópica é fácil, longe disso, mas acho que a autora se desviou bastante nesse livro do que deveria ser o tom da história e tenho a impressão de que vai ser impossível recuperá-lo no último. O segundo livro de uma trilogia é sempre difícil. Na trilogia Delirium, o segundo livro teve um tom completamente diferente do primeiro (e bem parecido com esse de Insurgente), mas a autora dele conseguiu criar um enredo único para aquele livro que foi muito, muito interessante e instigante (é de não conseguir parar de ler). Na trilogia Legend, da Marie Lu, o segundo livro subiu o nível da história de um jeito que eu nunca esperaria que acontecesse. Eu não sou das melhores escritoras do universo, mas meu instinto de escritora consegue me impedir de me surpreender com muita coisa. Nesse, Insurgente, nada que aconteceu foi surpresa para mim, nenhuma "traição", nenhum inimigo trocando de lado, nada, porque a autora seguiu um padrão bem linear de desenvolvimento (que talvez seja só reconhecido por leitores ávidos e escritores mesmo). A Marie Lu, na trilogia Legend e em todas dela, sempre consegue te fazer achar que vai ser de um jeito e desviar depois para lugares e acontecimentos que você nem achava serem possíveis. Com Jogos Vorazes, por exemplo, a autora conseguiu uma ideia brilhante para o segundo livro: voltar ao começo, mas mudar as regras (ela acabou se perdendo na questão revolucionária afinal, mas isso não importa). Insurgente não conseguiu ser como nenhum desses livros. A autora disse que queria que cada livro fosse a continuação direta do outro, mas eu acho que esse foi um dos seus erros. Em vez de dar uma guinada na história, de recomeçar com regras diferentes, de ir por caminhos que nem deviam ser imaginados antes, ela se mantém dentro dos mesmos limites traçados no livro anterior e faz os vários acontecimentos não ajudarem em nada a transformar a narrativa em um pouco menos maçante.



Como disso, acho que essa decaída do ritmo da história não vai conseguir sobreviver no próximo livro, mas vou ler em seguida. Estou animada, na verdade, para ler o livro do Quatro! Aliás, na minha versão de capa de papel em inglês, tem uma citação logo na primeira página (como propaganda) que só acontece depois da página 500 e me fez ter certeza do resultado de certos acontecimentos só porque eu sabia que a Tris precisaria estar naquela posição em algum momento. Não é um spoiler, mas não foi muito inteligente dos editores também


Convergente - Livro 3


Sinopse:

A sociedade baseada em facções, na qual Tris Prior acreditara um dia, desmoronou – destruída pela violência e por disputas de poder, marcada pela perda e pela traição. Em Convergente, o poderoso desfecho da trilogia de Veronica Roth iniciada com Divergente e Insurgente, a jovem será posta diante de novos desafios e mais uma vez obrigada a fazer escolhas que exigem coragem, fidelidade, sacrifício e amor. O livro, que chega ao Brasil no momento em que Divergente estreia nos cinemas, alcançou o primeiro lugar na lista de bestsellers do The New York Times.


O QUE EU ACHEI:


Se eu pudesse dar um único conselho à autora da trilogia Divergente, diria que ela deveria focar em livros únicos. A história da trilogia está longe de ser ruim, ainda mais depois de todos os detalhes que foram explicados nesse livro, mas é incrível como o nível do primeiro livro caiu nos dois seguintes. Tudo era melhor antes, as cenas, a narrativa, a Tris e até o Tobias. A explicação da distopia foi bem inteligente e eu gostei de ver como cada peça se ligava à outra, mas não dá para fingir que esse livro foi muito bom ou que não foi bem chatinho. Minha primeira crítica é ao enredo. Não consigo entender o que leva autores de YA a escreverem livros tão grandes desnecessariamente. 500 páginas são deliciosas em livros mais leves, mas quando o tema é um pouco mais pesado, a chance de ficar arrastado é muito grande. Foi isso que aconteceu aqui. Esse terceiro livro tem a grande explicação de tudo, mas cenas de ação de verdade acontecem só nas últimas setenta páginas. Setenta páginas! De 526! O resto todo é uma grande espera, com várias repetições da explicação do mundo, várias intrigas, mil lados de mil guerras que chegaram bem perto de serem exagerados. Não existia a menor necessidade de ela ter escrito uma trilogia com dois livros tão grandes, a não ser pelo fato de ser moda na época. Era moda escrever trilogias e os próximos livros serem maiores que os anteriores. Tenho certeza de que hoje em dia essa história teria sido publicada como duologia, que daria tempo o suficiente para tudo ser abordado sem se perder em cenas inúteis e paradas. O Tobias foi um personagem que me encantou no primeiro livro. Ele não era simples, nem completamente bom e era bem interessante. Mas, desde Insurgente, a autora veio quebrando essa personalidade cada vez mais e ela tirou qualquer mistério e apelo dele ao começar o livro intercalando a narração da Tris com uma dele. Não só porque estávamos dentro da cabeça dele, mas porque finalmente descobrimos pelo jeito que ele pensa que ele é bem qualquer coisa. Ler capítulos pelo ponto de vista dele só ficou relevante a partir das últimas cem páginas, quando a missão dos dois se divide. Antes, os capítulos dele só serviram para serem ainda mais chatos que tudo e me fazerem ficar torcendo para o próximo ser da Tris (mesmo que nada fosse acontecer neles). No livro extra, que conta a história do Tobias antes da trilogia, a autora diz na introdução que tinha começado Divergente pelo ponto de vista dele, mas que a história empacou nas primeiras trinta páginas. E agora eu entendo por quê, já que a narrativa dele nesse livro empacou nos primeiros capítulos também. Não sei se é porque a autora não consegue se colocar no lugar dele ou o quê, só sei que essa parte dele foi bem ruinzinha. A narrativa era feita praticamente só de ações, de fatos, e não de sensações, sem quase nenhuma descrição sensorial. Mas o pior ainda foi quando ela roubou a chance de a gente ler certos momentos pelo ponto de vista da Tris. Sacanagem. Eu gostei da Tris desde o começo, para falar a verdade. Acho que ela é uma das minhas personagens favoritas de livros distópicos, mesmo tendo passado por uma fase muito, muito chata e repetitiva no segundo livro. Nesse terceiro, eu senti que a autora estava fazendo ela ser um pouco poética e cheia de epifania bonita demais, e, para ser honesta, eu já tinha perdido um pouco do interesse em vê-la sempre nas mesmas situações de ação. Mas preciso dizer que adorei o final dela! Sim, achei que fez total sentido. É dolorido, claro, mas fez bem mais sentido do que qualquer outro final para ela e dá para ver nos seus últimos capítulos aquela mesma personagem do primeiro livro, que me fez sentir como ela é forte e corajosa, sem medo de assumir seus próprios defeitos e entender até onde está disposta a ir. Só que (e, sim, tem um "só que") o final dela foi bem mal narrado. Aquela cena foi mega superficial e corrida. Eu imaginaria que a autora iria tentar se esforçar para fazer um final melhor para ela, mas não foi assim. Estou criando na minha cabeça algo mais emocionante e impactante, para eu poder guardar a personagem com o carinho que ela merece. O final do Tobias foi um pouco mais sem graça. Gostei dos capítulos curtos, mas os próximos me pareceram arrastados demais também. Eu já tinha lido uma trilogia inteira e estava considerando a possibilidade de pular as últimas vinte páginas porque não aguentava mais a narrativa dele - esse é o maior sintoma de que não estava funcionando.



Aliás, se prepare que a autora gosta de matar quase todos os personagens em volta da protagonista desde o primeiro livro de um jeito tão, mas tão aleatório, que eu acho que ela queria ficar conhecida por isso (conseguiu?). É tipo Grey's Anatomy, já leia se desapegando dos personagens, porque "todo mundo" morre. É pela Tris e pela explicação da distopia que eu dei essa nota (se dependesse do Tobias e do enredo, seria lá perto de uma e meia). A trilogia Divergente não é perfeita, mas é diferente de outras e é bem incrível ver mesmo um mundo desses sendo criado por uma pessoa. Aconselho que, se você tiver interesse em ler, se esforce um pouco, porque vale a pena conhecer todo o alcance dessa ideia.


Quatro - Livro extra


Sinopse:

Reunindo quatro histórias da série Divergente contadas da perspectiva do personagem Tobias, e três cenas exclusivas, Quatro Histórias da série Divergente oferece aos fãs da saga criada por Veronica Roth a chance de conhecer melhor a personalidade de um personagem fascinante e complexo e a chance de mergulhar mais fundo na sociedade dividida em facções criada pela autora. Com mais de 21 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, a série Divergente chegou aos cinemas com Shailene Woodley e Theo James nos papéis principais.


O QUE EU ACHEI:


O que leva um autor a escrever histórias extras da sua trilogia? Quero muito saber o que levou essa autora a escrever esse livro de histórias do Tobias, já que, na sua maioria, elas foram bem inúteis. Eu entendo o apelo de ler o ponto de vista de outro personagem, principalmente o par romântico da protagonista da série. Acredite, eu mesma adoro essas coisas e a melhor parte desse livro, a única que me fez dar pelo menos três estrelas, foi a chamada "O Traidor", que é quando mostra realmente a interação do Tobias com a Tris. O problema é que, até então, não teve nada novo. E - sei que tem muita gente que não vai gostar que eu fale, mas - isso é um erro da autora. O Tobias teve, até então, praticamente as mesmas experiências da Tris, as mesmas sensações. Parece que a autora só conseguia mesmo ver os mesmos cômodos e atitudes de um jeito só. o Tobias percebia os mesmos detalhes nas coisas que a Tris, tirava as mesmas conclusões, raramente pensou por si mesmo e nunca chegou a discordar completamente dela. Era tanta coisa "sincronizada", que eu me senti como se estivesse lendo o rascunho de Divergente. E é bem provável que estivesse mesmo. Como a própria autora diz na Introdução, ela começou a escrever Divergente com o Tobias como principal, mas não funcionou (e mal funcionou aqui, aliás), então ela desistiu e só depois de anos pegou para reler e mudou o protagonista. E aparentemente ela não fez questão de mudar essa parte aqui para lançar a história do Tobias, porque eles tem cenas muito parecidas, dando a forte impressão de que ela levou a ideia da história dele para a da Tris e simplesmente esqueceu de todas essas coincidências aqui antes de publicar esse livro extra. Ficou muito esquisito, sério. Talvez seja mais difícil de perceber para quem faz mais de uma semana que leu o primeiro livro da trilogia Divergente, mas foi muito óbvio para mim e eu estava começando a achar que era uma grande piada.



O conto "O Traidor" é de longe o mais interessante deles, principalmente porque é o Tobias da trilogia, não um que ainda precisa chegar lá. Eu adorei mesmo ver as interações dele com a Tris, mas, depois de todos os quatros livros, preciso dizer que perdi meu amor por ele. No Divergente, ele parecia mais intrigante e interessante, mas, desde então, venho percebendo que ele é bem comum e não tem nada de especial. Nesse conto, ele teve algumas cenas com mais potencial para voltar a como eu o via antes, mas não o suficiente. Acho que talvez, se a autora tivesse feito passar mais tempo entre a iniciação dele para o livro Divergente, ele poderia ser mais seguro de si e maduro, como eu queria que fosse. Mas minha falta de apego não significa que ele é um personagem ruim. Acho que a autora poderia ter se empenhado mais nos pontos de vista do Tobias, porque a narrativa não tem nem perto o mesmo nível que a da Tris. Se não estava funcionando para ela entrar no personagem, talvez fosse melhor ter narrado na terceira pessoa. Só sei que deixa a desejar, sim, e o único livro da trilogia que realmente foi incrível é o primeiro.



 
 
 

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