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RESENHA: Trilogia Feita de Fumaça e Osso (TAYLOR, Laini)

  • Foto do escritor: Laura Machado
    Laura Machado
  • 22 de nov. de 2017
  • 8 min de leitura

SINOPSE (do primeiro livro):

Pelos quatro cantos da Terra, marcas de mãos negras aparecem nas portas das casas, gravadas a fogo por seres alados que surgem de uma fenda no céu. Em uma loja sombria e empoeirada, o estoque de dentes de um demônio está perigosamente baixo. E, nas tumultuadas ruas de Praga, uma jovem estudante de arte está prestes a se envolver em uma guerra de outro mundo. O nome dela é Karou. Seus cadernos de desenho são repletos de monstros que podem ou não ser reais; ela desaparece e ressurge do nada, despachada em enigmáticas missões; fala diversas línguas, nem todas humanas, e seu cabelo azul nasce exatamente dessa cor. Quem ela é de verdade? A pergunta a persegue, e o caminho até a resposta começa no olhar abrasador de um completo estranho. Um romance moderno e arrebatador, em que batalhas épicas e um amor proibido unem-se na esperança de um mundo refeito.


Resenha de Feita de Fumaça e Osso:


Já disse que eu tenho um problema enorme chamado não ler as sinopses dos livros inteiras antes de começar a ler? Depois de ver resenhas de pessoas em quem eu confio completamente para gosto de livro, comprei essa trilogia sem nem saber direito sobre o que era. "É sobre anjos," foi tudo que eu falei para mim mesma (até tentei ler a sinopse com atenção, mas não cheguei a entender nada direito). E que a autora é super elogiada pela escrita. Vou admitir que fiquei um pouco com medo disso da escrita dela, porque tem gente que elogia a escrita da Tahereh Mafi na trilogia Estilhaça-me e eu achei péssima. Mas não precisava desse medo todo! Laini Taylor realmente escreve muito bem, principalmente porque a narração fica completamente natural, não forçada como a da Mafi. Essa foi só uma nas várias surpresas que eu tive sobre o livro. Quer dizer, quando dizem que o autor escreve muito bem, eu imagino que o livro vá ser pesado e complicado, mas a narração desse foi maravilhosa. Não é exatamente leve, é intensa, mas não pesada. É mágico mesmo como ela te puxa para dentro da história desde o começo. E a autora faz uma coisa que eu adoro, que é te jogar no meio e não explicar tudo de cara, só dar pistas e ir amarrando-as devagar. Queria que ela escrevesse livros não fantásticos também!


Porque, vou admitir, fantasia teoricamente não é um dos meus gêneros favoritos, apesar de eu já ter lido vários livros dele e meus favoritos também serem de fantasia (er, duologia Six of Crows). Na verdade, ultimamente ando gostando mais de livros assim, porque meu desgosto de antes era para livros da fantasia...como este. Não me leve a mal, o mundo dessa trilogia é complexo e nada utópico, o que só ajuda a deixá-lo bem interessante. Mas as criaturas, em compensação, são exatamente o tipo de coisa que me afastava de livros de fantasia antigamente. Sério, se não fosse pela narração ótima, pela criação do mundo impecável e uma protagonista muito interessante e diferente, eu provavelmente teria detestado esse livro. Mas não cheguei nem a me incomodar de leve com as quimeras esquistas, até estava me divertindo com o quanto tudo isso é bizarro. No final das contas, o livro é super fácil de ler, porque ele é viciante o suficiente para você nem ver as páginas passando. O romance é bem interessante também, apesar de eu não ter me apegado nem um pouco ao Akiva. As razões para eu não ter dado cinco estrelas são simples. Primeiro, isso de como o mundo simplesmente não ser muito meu estilo me deixa um pouco desconectada com o livro. Acho que foi o que me fez não considerar colocar ele como um dos meus favoritos.


E a outra razão é que, apesar de ter adorado o emaranhado de memórias entre a narração, quando chegou na parte da Madrigal, eu fiquei um pouco entediada. De primeira, não gostei muito dela, mas depois acabei entrando na sua história. O problema é o resultado de tudo. Sempre vou estar do lado da Karou e vai ser difícil aceitar a mudança que o clímax do livro trouxe. Aliás, aquele final me fez sentir um pouco idiota, porque ele estava super claro, mas só cheguei a pensar no que tudo aquilo significava quando o Akiva falou com todas as palavras! Como eu sou besta! Haha, mas achei ótimo, perfeito para me fazer correr para o segundo!


Resenha de Dias de Sangue e Estrelas:


Muitas vezes quando eu vou escrever uma resenha, me pergunto o que faz um livro ser bom, o que me leva a escolher quantas estrelas dar para ele. Uma das partes mais importantes é se ele entrega aquilo que prometeu, mas a escrita também é válida. Os personagens, ainda que muitas vezes não façam tanta diferença para outras pessoas, são essenciais para mim. E, em relação a tudo isso, eu poderia dizer que esse livro talvez mereça cinco estrelas. Mas eu simplesmente não gostei muito dele. A escrita da Laini Taylor é realmente ótima, porque ela explora emoções na narração, ao mesmo tempo que "brinca" com a ordem das palavras e dos acontecimentos sem se perder em nada. Isso é muito raro e muito incrível. O único problema é que às vezes ela explora as cenas demais. No primeiro livro, já senti que ela tinha feito isso algumas vezes, mas era só estilo e não chegou a roubar o ritmo da história. Nesse, infelizmente, não caiu tão bem.

A versão que eu li em inglês tinha 513 páginas, mas toda a história dele poderia ter sido escrita em 300 se a autora não tivesse perdido tanto tempo explorando personagens e acontecimentos desnecessários. É interessante ver o lado de uma quimera simples e no meio do nada, que não deveria ter nada a ver com a guerra? Claro. Mas quando chega no quinto capítulo dessa personagem - que no final das contas nem importa por razão alguma além de curiosidade, - fica chato. Teve um outro personagem que apareceu na história por um só capítulo, mas até esse poderia ter sido menor. Entendo a intenção dela de querer mostrar detalhes da vida de outra pessoa rapidamente, de uma pessoa que poderia ter passado despercebida, mas não funcionou para mim (como funcionou, por exemplo, no livro da Leigh Bardugo, Six of Crows). Até cheguei a pensar que ela deixou muito a desejar na explicação de dois lados da mesma guerra, uma coisa que a Kiersten White fez maravilhosamente bem na continuação do livro Filha das Trevas. Talvez ter lido livros tão bons antes tenha me feito sentir a diferença entre eles e esse mais do que o normal. Quem dera se essa fosse a única enrolação do livro. Até mesmo a história da Karou foi arrastada completamente. Eu imaginaria que em um livro com mais de quinhentas páginas, as coisas fossem mudar drasticamente comparando o começo ao fim, mas não. Até o primeiro livro, cem páginas menor, teve reviravoltas mais inesperadas e interessantes que esse. Aliás, se eu pudesse resumir esse livro, diria que ele é uma grande espera. E, não, eu não quero ter que ler um livro inteiro desse tamanho para ter só acontecimentos realmente essenciais em uns três capítulos nas últimas cinquenta páginas. Não quero ter que passar por todas as páginas sentindo que não estou saindo do lugar. E não foi nem questão de demorar para ler, já que eu terminei o livro em dois dias, em duas "sentadas". Ele continua sendo mais rápido e fácil de ler do que eu esperava, só foi chato mesmo. O desenvolvimento dos personagens é muito bom ainda, principalmente da Karou, mas ele poderia ter sido feito em menos de cem páginas, principalmente porque, apesar do rancor dela e da culpa, eu senti quase o tempo todo que ela estava ignorando a mensagem que o Brimstone tinha passado para ela durante a vida inteira (não quero ser específica, mas né). Até entendo que ela precisava de um catalisador mais potente, mas me incomodei em ter que esperar mais da metade do livro para ele aparecer. Antes disso, ela ficou presa em uma vida sofrida e cativa que ela mesma cavou para si. E talvez essa seja a única incoerência para mim, como ela odeia quem já amou, mas se alia sem pensar a quem só a quer morta. Sem contar com o tempo todo que ela passa querendo se redimir sem pensar em paz. Se o Brimstone estava certo há dezoito anos atrás, ela não deveria ser do tipo de pessoa que aceita isso tão fácil assim, principalmente depois de tudo que viveu. Mas cada pessoa reage a luto à sua maneira, então nem me incomodei tanto com o que ela sentiu, só com o tempo exagerado que a autora demorou para desenvolver isso, toda a situação dela. Com o Akiva, apesar de ele não ter saído muito do lugar também, foi bem mais rápido e lógico.


O final do livro tem suas cenas mais emocionantes e que realmente têm consequências diferentes para os mundos, mas nem consegui me animar muito, depois de ter passado tanto tempo esperando por qualquer cena mais interessante. Vou ler o terceiro em seguida, mas não porque estou animada, só por medo de desistir dessa trilogia se parar agora. Porque, realmente, o primeiro livro foi bom demais para a caída desse. Aliás, aqui vai minha apreciação pela Zuzana e pelo Mik, oásis - quase literais, - nessa história toda. E, também, pela Liraz e pelo Hazael.


Resenha de Sonhos de Deuses e Monstros:


Acho que esse foi o livro mais bonito que eu já li. Agora entendo por que tanta gente fala sobre a escrita da Laini Taylor. Já era boa nos outros livros da trilogia, mas esse terceiro é uma verdadeira obra de arte. E não é só pela prosa que beira a poesia, mas pela maestria da autora em amarrar todos os detalhes possíveis, em não fugir da complexidade dos infinitos mundos que criou e, ao invés disso, encará-la de frente e superá-la a cada capítulo. O primeiro livro da trilogia tinha me surpreendido. Eu não esperava aquela dinâmica da história, não esperava as criaturas tão diferentes e definitivamente não esperava tantas ramificações do enredo que ainda teriam que ser desvendadas. A única coisa que faltou naquele livro para mim foi algo que me conectasse completamente a ele, mas isso é defeito meu, não dele. Eu que não estava acostumada com esse tipo de fantasia e ainda me sentia afastada dela. Mas agora não estou mais. O segundo livro, em compensação, foi uma pequena decepção. Ele foi maior do que deveria ter sido, sua história arrastada demais e, depois desse, percebi que o segundo tem um defeito ainda maior. Diferente do primeiro, que nos apresenta a todo o universo da história e uma pequena amostra do que ainda tem para ser descoberto, e do terceiro, que desenvolve ainda mais do que eu poderia esperar, com muito mais profundidade do que imaginava, o segundo não tem quase nenhum mistério. Ele é um livro de transição - e eu acho válido isso existir, mas ele acabou ficando mais longo e maçante do que precisava. Além disso, ele parece um pouco desconectado de todo o universo da história. Mas, depois disso tudo, depois de toda a promessa do primeiro e o caminho que o segundo teve que percorrer para chegar aqui, o terceiro não deixa absolutamente nada a desejar. Ele não só consegue amarrar todas as pontas que tinham aparecido como soltas nos livros anteriores, como amarra outras que - eu acredito, - nenhum leitor teria ao menos pensado que existiam e precisariam ser fechadas. E ele as amarra com uma realismo e uma fascinação maravilhosos, sem nunca ser fácil demais ou previsível demais. Todos os personagens e acontecimentos são conectados, como se fossem destinados àquilo e ao mesmo tempo o resultado de tudo estivesse à mercê de suas atitudes. Isso é maravilhoso! Mas não é só isso que faz esse livro ser uma obra prima.


E também a escrita da Laini Taylor, que é mais bonita do que eu conseguiria explicar aqui, que me faz querer ser como ela, que deu tanto valor e tanta beleza para essa história, que ela deveria ser lida como um conto de fadas clássico e eterno, mas muito mais realista e muito mais romântico. Esse livro conseguiu realizar todos os sonhos que eu tinha nutrido para sua história - e outros que eu nem sabia que eram possíveis, - conseguiu satisfazer também meus ships (sim, mais de um!) e me fazer sentir que vou levar essa história para sempre em meu coração e lista de favoritos. Nem consigo explicar o quanto o amei, o quanto recomendo para quem já gostou dos livros anteriores ou para quem ainda não se convenceu completamente com a história e para quem simplesmente quer se perder por um mundo mais complexo e bem criado do que qualquer outro antes.



Foi uma experiência única ler essa história e fico extremamente feliz de ter seguido indicações de outras pessoas para essa trilogia. Ela é do tipo que muda a vida de quem cruza seu caminho. Mudou a minha.


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