RESENHA: Trilogia Grisha (BARDUGO, Leigh)
- Laura Machado
- 24 de ago. de 2017
- 11 min de leitura
Em um mundo fantástico criado pela autora, Grisha são as pessoas que têm algum tipo de poder. Elas são testadas quando crianças e, quando descobrem esses poderes, são enviados para uma espécie de escola que as treina até virarem adultas. No começo de cada livro, está explicada a ordem da hierarquia dos Grisha.
O primeiro livro no Brasil se chama Sombra e Ossos, o segundo chama Sol e Tormenta e o terceiro chama Ruína e Acensão.
Sinopse de Sombra e Ossos:
Alina Starkov nunca esperou muito da vida. Órfã de guerra, ela tem uma única certeza: o apoio de seu melhor amigo, Maly, e sua inconveniente paixão por ele. Cartógrafa de seu regimento militar, em uma das expedições que precisa fazer à Dobra das Sombras – uma faixa anômala de escuridão repleta dos temíveis predadores volcras –, Alina vê Maly ser atacado pelos monstros e ficar brutalmente ferido. Seu instinto a leva a protegê-lo, quando inesperadamente ela vê revelado um poder latente que nunca suspeitou ter. A partir disso, é arrancada de seu mundo conhecido e levada da corte real para ser treinada como um dos Grishas, a elite mágica liderada pelo misterioso Darkling. Com o extraordinário poder de Alina em seu arsenal, ele acredita que poderá finalmente destruir a Dobra das Sombras. Agora, ela terá de dominar e aprimorar seu dom especial e de algum modo adaptar-se à sua nova vida sem Maly. Mas nesse extravagante mundo nada é o que parece. As sombrias ameaças ao reino crescem cada vez mais, assim como a atração de Alina pelo Darkling, e ela acabará descobrindo um segredo que poderá dividir seu coração – e seu mundo – em dois. E isso pode determinar sua ruína ou seu triunfo.

Minha resenha para Sombra e Ossos:
Este livro foi uma surpresa para mim. Só cheguei mesmo a comprar a trilogia Grisha e resolver ler, porque quero muito ler Six of Crows e Crooked Kingdom e ouvi dizer que existem pequenos spoilers da trilogia neles. Se não tivesse lido nada sobre, provavelmente demoraria mais algum tempo para acabar lendo a trilogia.
Então fiquei bem surpresa ao ver o quanto eu gostei de ler esse livro! Infelizmente, ele não é perfeito, mas adorei perceber que é quase!
Acho que a primeira coisa importante a ressaltar são os personagens. Todos são interessantes, têm seus defeitos (espera, será que o Mal tem algum defeito?) e eu gostei de cada um, mesmo daqueles que eram para ser ruins (mas só porque a criação deles foi bem feita e eles são necessários, claro!).
Outra coisa que me surpreendeu foi o quanto eu gostei da protagonista, já que muitas resenhas negativas são de pessoas que não gostam dela. Mas eu adorei a Alina! Achei ela engraçada, sarcástica e bem real mesmo. Ela não é perfeita, é uma garota que cresceu com muito pouco, sendo medíocre e solitária. Na verdade, em alguns momentos eu achei que faltou desenvolvimento dela, principalmente porque a narrativa é em primeira pessoa. Mas acho que o que causou esse problema foi outra coisa.
Como falei, os outros personagens são ótimos. Amei a Genya desde o começo (quero um livro só dela), o Darkling é interessante também, o Mal é apaixonante e até mesmo os outros personagens que aparecem pouco parecem carregar mais história do que deu para ver até agora. Espero que se desenvolvam nos próximos livros!
Também gostei bastante da criação do mundo, que eu já sabia que seria impecável, e do enredo. Quer dizer, é bem 'jornada do herói', o que não foi tão incrível para mim, porque já li vários livros nesse estilo e a autora basicamente seguiu a receita. Mas ela seguiu direitinho, o que é mais raro do que deveria ser, então não posso criticar isso nem um pouco! Além de que jornada do herói costuma durar só no primeiro livro, então estou animada para ver como ela vai desenvolver daqui pra frente!
E eu me diverti do começo ao fim, li em dois dias, porque não queria parar. Mas infelizmente tenho algumas críticas para fazer, que me obrigaram a tirar pelo menos uma estrela (talvez até tivesse que tirar mais, mas gostei demais do livro para isso).
A primeira é o ritmo da história. Durante quase o livro inteiro, esse é um ponto alto. Quer dizer, é impossível ficar entendiado quando a história corre assim! E o ritmo encaixa bem nas situações. Mas, algumas vezes, ele só pareceu apressado. Foi isso que eu acho que atrapalhou o desenvolvimento da protagonista. O livro é curto, a versão que eu li tem só 308 páginas, dava para a autora aumentar mais cinquenta e usá-las para desenvolver mais os pensamentos e sensações da protagonista em algumas cenas. A mais importante, a que vem depois do clímax, que realmente desencadeia o final, foi corrida. E não precisava ser. Aliás, se fosse melhor desenvolvida, o final encaixaria melhor. Mais alguns parágrafos explorando detalhes não atrapalharia o ritmo da história!
Outra crítica para mim foi o romance. Quer dizer, tem cenas bem bacanas e, como eu disse, eu gostei de todos os personagens! Além disso, sou completamente apaixonada por romance! Então estava esperando torcer por essas cenas e ficar até emocionada com elas! Caramba, tem uma hora que um personagem aí fala uma coisa muito linda, mas ainda não consegui ser comovida. Talvez também seja culpa do ritmo. A autora estava tão preocupada em deixar a história com ação, que não soube criar tensão com as pequenas coisas. Faltou isso mesmo, faltou cenas mais detalhadas e menores, com ações menores e mais importantes.
Minha última crítica foi uma que quase me fez mesmo tirar mais uma estrela. A partir de um ponto bem importante da história, que para mim é o clímax, a protagonista começa a ter um certo objetivo. Ela passa semanas atrás dele em condições bem precárias e, quando o encontra, fraqueja. Até aí, tudo bem. Eu entendo, de verdade, apesar de ainda achar que a autora não explorou nem essa cena e devia, porque ela acabou virando uma cena fraca. Mas meu problema é quando tudo dá errado e era para a protagonista entrar em certo desespero, mas ela não entra. Depois, mais para o final, dá pra ver que era porque ela precisava não ter feito tal coisa, mas o jeito que a autora explicou foi errado. Ficou parecendo uma desculpa mal feita, que não convence, e tirou bastante da força da cena para mim. (Se alguém quiser falar sobre isso diretamente comigo, me manda mensagem! Cuidado com spoilers nos comentários.) É bem ruim quando o autor precisa forçar algo a não acontecer de um jeito que não faz o menor sentido. Demorei depois dessa parte para voltar a entrar na história, já que a credibilidade de todas as cenas a partir dali tinha sido estragada. E, o pior, era simplesmente o momento mais importante do livro inteiro.

Mas, como falei, eu gostei muito do livro, dei quatro estrelas, adorei os personagens e vou começar o próximo agora mesmo! Imagino que, agora que ela não está presa à receitinha de jornada do herói, dê para a autora expandir bastante e explorar seu mundo melhor! O único problema é que eu fui de alguém que não esperava muita coisa dessa trilogia para alguém com expectativas enormes para o segundo livro! Isso nunca é uma boa ideia, né?
Minha resenha para Sol e Tormenta:
É difícil tentar avaliar esse livro. Na verdade, já foi bem difícil avaliar o primeiro. Por um lado, existem momentos bem interessantes da protagonista e do relacionamento dela com seu amigo de infância e outros personagens. Também tem cenas incríveis, que eu nunca poderia prever, com atitudes super empoderadas dela. A criação do mundo é impecável mesmo, todos os detalhes pensados e inspirados em uma cultura que ajuda a dar credibilidade à história. Ou seja, por um lado, essa trilogia é cheia de detalhes interessantes e bem feitos.

Mas, por outro, ela é terrivelmente batida. Desde o começo, eu tive uma sensação de que já tinha visto aquilo antes - várias vezes. Na verdade, a maior lembrança que tive veio da série Corte de Rosas e Espinhos, da qual, aliás, eu não gosto. Era uma sensação tão forte de estar lendo quase a mesma série, que eu precisava me forçar a lembrar que eu NÃO estava lendo a história da Sarah J Maas, mas uma trilogia da Leigh Bardugo. O pior era que, quando eu ficava com essa sensação, começava a deixar de gostar do que estava lendo e querer largar (o que é totalmente irracional, porque esse livro aqui foi muito melhor desenvolvido e escrito do que o segundo da outra trilogia - na minha opinião, - e eu gosto muito mais desse).Às vezes, esse livro me lembrou também de Jovens de Elite, com toda a história da Alina tentando entender e aceitar a parte 'ruim' de seu poder. E, apesar de ter gostado de todo o desenvolvimento desse livro, a trilogia Jovens de Elite é bem melhor e mais original do que essa.
Eu ainda gosto bastante da Alina e do Mal, mas senti quase constantemente nesse livro que a personalidade deles tinha desaparecido. Eles ficaram bem genéricos na maioria das cenas. Sabe aquela sensação de que você não conhece um personagem, mas, como ele secundário, consegue adivinhar o jeito clichê e batido com o qual ele vai agir? Foi assim. As brigas deles pareciam de novelas, de dramas exagerados. E isso infelizmente me incomodou bastante.
Sabe o que faltou? Companheirismo. E isso falta em praticamente todos os casais literários por aí (menos no da trilogia Legend, que casal incrível!). Eu até entendo na maioria dos livros, já que quase sempre o casal se conhece há pouco tempo. Mas Alina e Mal se conhecem desde que eram crianças! Eles foram melhores amigos antes de terem qualquer interesse romântico um pelo outro. Eles não só eram melhores amigos, como era literalmente a única família um do outro (ambos órfãos). Essa atitude de estranhos inseguros deles, de mentir e esconder as coisas, não conseguiu me convencer. Além de ter sido forçada, foi desnecessária. A autora parece ter colocado só porque faz parte da receita de como escrever uma trilogia fantástica YA.
Tem outro personagem que eu preciso mencionar aqui: Nikolai. Estou levemente apaixonada por ele, vou admitir! Mas, infelizmente, muitas vezes também senti que ele foi criado como parte de uma receita, sabe? Quantos personagens diretos, sarcásticos, convencidos e engraçadinhos não existem por aí? Algumas vezes, ele me pareceu bem caricato. Era na hora de ele ficar sério que deu para eu perceber a força que ele tem como personagem. E admito que comemorava todas as vezes que ele aparecia, mesmo nas cenas em que só serviu para criar discórdia estilo novela.
E sabe o que mais me dá raiva? O quanto esse livro é bom! O quanto a autora é boa! Dá para ver todo o potencial e a genialidade dela nas outras partes, nas cenas em que ela não se segura para seguir o modelo já aceito, quando ela realmente surpreende! Meu deus, eu preciso que essa autora sente para conversar com a Marie Lu (autora das trilogias Legend e Jovens de Elite), porque a Marie Lu sabe como fugir do clichê e do batido nas pequenas coisas. E, se a Leigh Bardugo tivesse feito isso nessa trilogia até agora, esses livros seriam históricos, de tão épicos.
A maior prova do quanto ela consegue ser realmente incrível e genial é o último capítulo. Infelizmente, ele vem depois de vários praticamente inúteis que me deixaram um pouco entendiada e bem incomodada. Como alguém que sabe fazer um final desses passa quase um livro inteiro sem aproveitar desse potencial? Sofrido viu!

Mas agora vou correr para o terceiro livro, tentar diminuir minha expectativa (porque ouvi dizer que muita gente não gostou) e torcer para ser surpreendida.Só um último detalhe: esse livro tem um pequeno, minúsculo triângulo amoroso, mas definitivamente não envolve o Darkling. Não é possível que vai envolver ele no próximo. Isso seria doente!
Minha resenha de Ruína e Acensão:
Se prepare, que essa resenha vai ser sofrida e dramática como o livro foi.
Os dois primeiros livros dessa trilogia são bons. Eles têm seus defeitos, me deram várias vezes a impressão de que a autora estava tentando se manter mais ou menos no seguro do que já existia do gênero de fantasia, mas ainda são bons. Eu já os recomendaria facilmente, ainda que não não pudesse dizer que os amava.
Este último livro, em compensação, eu amo. Este me faz recomendar que leiam esta trilogia o mais rápido possível, para que cheguem nesse livro, tenham seu coração destruído como o meu e acabem chorando com o final - de tristeza, de felicidade, só por esse livro existir, só por essa história ter sido escrita. Este livro me quebrou. Este é daqueles que mudam sua vida.
Falar que esse livro foi perfeito não é o suficiente. Ele foi absolutamente tudo que precisava ser e mais. Passei quase o livro inteiro repetindo para mim mesma como eu o odiava, não porque ele é ruim, mas porque ele estava me matando. Quanto sofrimento, meu deus. Desde o começo, foi uma mistura de sentimentos, uma ansiedade, uma adrenalina e, pior de tudo, um medo absurdo do que me esperava nas próximas páginas. É incrível pensar no crescimento de todos os personagens, mesmo os secundários. Me dá medo de novo perceber o quanto eu me importo com eles - e raramente crio esse ligação com personagens. Durante as últimas cem páginas, precisei parar de ler a cada dez, só para respirar, só para afastar o sofrimento de tudo que estava acontecendo.
É nesse livro que dá para ver o quanto essa história é única. Foi só aqui que a autora conseguiu explorar todo seu potencial e sua genialidade. Foi dolorida a quantidade de coisas que aconteceram, que deram errado, que mudaram o caminho de tudo. Eu chorei milhares de vezes com esse livro, em alguns momentos ficava até tremendo de fraqueza e medo, pensando em tudo que podia dar errado, em todas as pessoas que poderiam morrer. Chorei até a última frase - e que frase maravilhosa! E que epílogo lindo! Acho que nunca vou conseguir superar esse livro. Ele conseguiu fazer essa trilogia ir de uma da qual eu tinha gostado para uma que eu amo e vou guardar com muito carinho para sempre.

Acho que ainda vou precisar de mais algumas horas para superar tudo que aconteceu, mas eu realmente indico essa trilogia para todo mundo. Este último livro vale muito a pena. Todo o sofrimento vale a pena. Toda a falta de ar de todas as cenas vai valer a pena.
Uma coisa que eu preciso muito falar é sobre os personagens. Como eu disse, cheguei a me importar muito com eles e achei incrível o desenvolvimento deles até aqui. E eles merecem ser mencionados por nome. Como o Mal, que começou maravilhoso, teve alguns tropeços no meio e acabou melhor ainda. Durante milhares de cenas desse livro, quis ficar de pé e bater palmas para um cara desses.
Genya também, que me conquistou logo no começo e nunca chegou a perder minha admiração. E o David, o Nikolai (que me faz quase jogar o livro contra a parede uma hora aí), a Zoya também, a Tamar, o Tolya, a Nadia e todos aqueles que parecem ser meus amigos agora, de tão próxima que fiquei deles.
E, é claro, a Alina, que, como o resto da história, mostrou seu potencial de verdade nesse livro, tudo aquilo que ela precisava se tornar e mais. Realmente, o desenvolvimento dela e da história foi bem melhor do que eu esperava. Já estou um pouco cansada dessa ideia de muitos livros de fantasia de uma garota com o maior poder do mundo. E, aqui, a Leigh Bardugo provou que sua história era sobre bem mais que isso. Ela me fez fechar o livro quando terminei de ler e continuar chorando por tudo que tinha acontecido e pela beleza da história também, do jeito que ela escreveu, de como resolveu tudo, sem fugir dos problemas, mas quase literalmente iluminando tudo de um jeito que eu nunca teria imaginado, mas com bem mais significado.

E aquela última frase, feita para partir meu coração e consertá-lo de volta. Maravilhosa. Serei sempre grata pela chance de ler essa história e vou guardá-la para sempre em meu coração despedaçado.

Essa trilogia faz parte do Grishaverse, esse universo criado pela autora Leigh Bardugo. Além desses três livros, existe a duologia Six of Crows e Crooked Kingdom e um livro que será lançado agora em setembro, chamado The Language of Thorns, com contos e histórias pequenas do mesmo universo.
Todos os livros já lançados são da editora Gutenberg aqui no Brasil! Assim que eu ler os próximos, deixo a resenha aqui!
Cuidado, contém SPOILERS
Acabei de terminar de ler e estou ainda meio perdida, aérea, tentando absorver tudo o q eu li. Sério, q história incrível. Eu não esperava gostar tanto. Ainda estou tentando deixar que as marcas q os livros me deixaram se aprofundem pra eu nunca esquecer. Essa história me fez refletir tanto, sobre tantas coisas...Que personagens incríveis, dimensionais. Eu amei o Darkling, que personagem bem construído. Ele me fez odia-lo, respeita-lo, teme-lo, bem como tive compaixão, empatia, amor. Tinha momentos em que queria embala-lo em meus braços e mitigar um pouco a solidão que ele carregava, em outros eu queria fazê-lo desaparecer, destruí-lo pra sempre. Enfim, um bom personagem que conseguiu mexer comigo. Ele e o Nikolai se…
Fiquei fascinado com seus comentários, conhecimento e sensibilidade. E graças a voce pude compreender melhor as nuances da narrativa...