RESENHA: Trilogia Legend (LU, Marie)
- Laura Machado
- 21 de ago. de 2017
- 8 min de leitura
Já devo começar avisando que eu sou apaixonada pela escrita da Marie Lu (quero escrever como ela!). Até hoje, nunca encontrei uma escritora que conseguisse desenvolver suas histórias e evoluir seus personagens tão naturalmente, com tanto realismo, quebrando o clichê a cada página. Minha série favorita dela é a Jovens de Elite, mas finalmente li a trilogia distópica dela, Legend, e estou aqui para falar um pouco do que achei!
Sinopse de Legend:
Ambientado na cidade de Los Angeles em 2130 D.C., na atual República da América, conta a história de um rapaz – o criminoso mais procurado do país – e de uma jovem – a pupila mais promissora da República –, cujos caminhos se cruzam quando o irmão desta é assassinado e a ela cabe a tarefa de capturar o responsável pelo crime. No entanto, a verdade que os dois desvendarão se tornará uma lenda. O que outrora foi o oeste dos Estados Unidos é agora o lar da República, uma nação eternamente em guerra com seus vizinhos. Nascida em uma família de elite em um dos mais ricos setores da República, June é uma garota prodígio de 15 anos que está sendo preparada para o sucesso nos mais altos círculos militares da República.
Nascido nas favelas, Day, de 15 anos, é o criminoso mais procurado do país; porém, suas motivações parecem não ser tão mal-intencionadas assim. De mundos diferentes, June e Day não têm motivos para se cruzarem – até o dia em que o irmão de June, Metias, é assassinado e Day se torna o principal suspeito. Preso num grande jogo de gato e rato, Day luta pela sobrevivência da sua família, enquanto June procura vingar a morte de Metias. Mas, em uma chocante reviravolta, os dois descobrem a verdade sobre o que realmente os uniu e sobre até onde seu país irá para manter seus segredos.

Minha resenha de Legend:
Eu tenho um critério principal para decidir minha nota dos livros que eu leio: quão bem-sucedidos eles são em relação ao que se propõem. Quer dizer, se um livro que é divulgado como terror tiver um romance incrível, claro que isso ajuda. Mas se ele só tiver romance e não tiver terror, ele falhou miseravelmente em conseguir ser um livro bom. Legend é uma distopia. Se você começar a ler querendo algo diferente, vai se decepcionar e se irritar, porque em nenhum momento ele puxa para qualquer outro lado. Ele é divulgado e muito, extremamente bem-sucedido como um livro distópico. E tem tudo mesmo que precisaria ter, sociedade que finge ser para melhor, mas é podre, cheia de segredos e problemas, injustiças, personagens que se rebelam, várias cenas de ação e aquele gostinho de "graças a deus que essa não é a minha vida". Os dois pontos de vistas são extremamente interessantes e dá para ver a diferença entre os dois personagens. O enredo é cheio de ação, daqueles que te fazem segurar o ar nos primeiros capítulos e só soltar quando acaba.

Durante muitas, mas muitas cenas do livro, fiquei pensando comigo mesma, "Alguém dá um prêmio para a essa mulher!" (leve impressão de que já falei isso antes). A autora, Marie Lu, é incrível. Simplesmente incrível. Ela, sim, é um gênio. Enquanto ela viver, eu sei que existirão livros ótimos no mundo. Ela faz tudo perfeitamente bem. A sociedade distópica faz sentido, convence nas primeiras frases, até o mapa é tão plausível que me deu aperto no coração! E os personagens, meu deus, os personagens! Depois de Jovens de Elite, eu fiquei bem curiosa para ver se ela tinha começado já seu primeiro livro no mesmo nível! (Na minha opinião, Jovens de Elite só é um pouco melhor, porque é mais inusitado e diferente.) É incrível a habilidade dela de criar personagens completos, que parecem que existem de verdade logo no primeiro capítulo! A June (uma dos personagens principais) é exatamente o que uma protagonista de distopia devia ser, ainda mais na posição dela. Ela tem o orgulho que uma pessoa privilegiada como ela deveria ter, tem também o preconceito de quem sempre viveu protegida, mas a empatia de quem foi criada por uma pessoa boa que se importava com ela. E ela é forte, decidida, inteligente demais (er, prodígio!) e em nenhum momento ela se diminui. Muito pelo contrário! Ela lutou para ter as habilidades que tem, ela não se desmerece por nada. Ela batalhou o lugar de meu personagem favorito do livro com o Day por um bom tempo, mas acabou ganhando e por uma razão bem especial. O mundo precisa de protagonistas como ela. As leitoras de livros como esse precisam de protagonistas como ela. Precisam ver uma garota tão nova se valorizando, se empenhando para ser o melhor possível, sendo forte e justa, sem ter que esconder sentimentos para isso. Meu deus, até eu preciso de uma protagonista como essa na minha vida! Obrigada, Marie Lu, pela Adelina (de Jovens de Elite) e pela June. Outra coisa maravilhosa do livro são as cenas de ação! Li o livro em um dia, porque estava ansiosa demais para largar! É sério, esse livro é viciante do melhor jeito possível! Não deixa nada a desejar, é emocionante, tem mil reviravoltas, cenas imprevisíveis, personagens coadjuvantes interessantes e um final de tirar o fôlego. Eu decidi que me recusaria a não terminar ele no mesmo dia quando ainda faltavam cem páginas para o fim! E vou começar Prodigy hoje!

Só tive dois problemas com o livro, na verdade. O primeiro deles é a idade dos protagonistas. Não tenho ideia de por que a Marie Lu achou que precisava fazer os dois terem só 15 anos de idade. Eles agem bem mais maduros (o que faz sentido, já que, a partir dos dez, já são tratados praticamente como adultos). Mas eu acho que teria ficado melhor se ela tivesse aproveitado também do que é uma idade quase padrão em distopia, 17. Meu outro problema é que eu acabei percebendo que, quando terminar o Champion, só vai ter mais um livro dela me esperando em Setembro (Warcross, que ainda vai lançar em inglês). E depois dele? Como eu sobrevivo sem mais nada novo da Marie Lu para eu ler?
Minha resenha para Prodigy:
Isto daqui não é um livro, isto daqui é um tapa na cara. Na verdade, são vários tapas na cara.
Acho que a Marie Lu resolveu escrever a distopia perfeita. E está conseguindo! Primeiro, porque a distopia dela faz muito mais sentido do que todas as outras que eu já vi. Não consigo realmente procurar tanto realismo assim em distopia. Quer dizer, nunca cheguei mesmo a acreditar que uma sociedade como em Jogos Vorazes pudesse acontecer. Mas isso nunca estragou nenhuma história para mim (só A Seleção, mas nem tanto). Foi só quando cheguei a Legend (mais especificamente a Prodigy, já que foi nesse livro que a distopia foi explicada) que entendi que dá, sim, para escrever um livro distópico completamente possível! E provável, aliás.

Essa foi minha parte favorita desse livro, as explicações do que levou à sociedade atual, a criação da República, a separação dos EUA. Além, é claro, do outro lado, das Colônias. Sério, foi tudo tão bem pensado e lógico, que não sei como ninguém tinha escrito uma distopia assim antes! (Como se todo mundo fosse gênio como Marie Lu, né?) Os personagens continuam extremamente humanos, lógicos, profundos, com suas fraquezas e uma interação entre si que faz tanto sentido, que dá para sentir que eles existem de verdade! Não existe um único diálogo que não é natural ou que é forçado. Nem um pensamento na narrativa assim. Foi incrível ver o Day crescendo e se entendendo como celebridade até, como modelo para o povo. Mais ainda foi ver a June questionando a revolução. E, meu deus, que questão mais importante que a Marie Lu colocou! E eu aqui achando que esse livro ia ser uma grande guerra e revolução, uma bagunça anarquista. Mas ela ainda conseguiu se provar ainda mais inteligente do que no primeiro livro! Preciso ressaltar aqui a relação entre Day e June. Acho que os dois são os personagens que fazem mais sentido como casal que eu já vi. Como acontece na vida real, não tem só uma pessoa interessada neles, não é como se o mundo se resumisse a eles. Isso é necessário, tanto que fica mega natural, não só mais um triângulo ou quadrado amoroso. É vida real mesmo. Mas em nenhum momento existe alguma dúvida de que os dois não estão interessados em mais ninguém além um do outro. Mas é claro, um desafia o outro, melhora o outro, instiga o outro. Eles reconhecem um no outro algo que tem neles mesmo, ao mesmo tempo que vêem como podem melhorar. Isso é absolutamente tudo que você pode pedir em outra pessoa. Impossível não ter romance. Mas a melhor parte para mim é que o romance é um detalhe da relação entre eles. É parte deles, mas vai mais além do que isso. Eles confiam na opinião um do outro, e eu acho que é principalmente porque eles se identificam um com o outro. Eles entendem a força do outro, como o outro teoricamente não depende deles, mas como são melhores juntos, se completam. Que. Casal. Mais. Incrível. Meu deus, Marie Lu. Meu deus.

Mas, como a Marie Lu é mesmo maravilhosa e não faz só média, é claro que ainda reservou tapas na cara para o final do livro. O enredo em si já é ótimo, bem desenvolvido, lógico, mas também surpreendente. E definitivamente inteligente. Ela trabalhou a política da história melhor do que qualquer outra distopia, e com bem mais maturidade também. Mas ela sabe ser trágica. E ela (infeliz e felizmente) não foge de um problema, só vai na direção deles. Então, sim, eu já acabei esse livro chorando litros e com medo, porque eu tenho a forte impressão de que ela vai fazer um final sofrido. É a cara dela, definitivamente é a cara dessa história. Estou quase me proibindo de ler Champion, só para não ter que encarar o que me espera no último livro. Já disse que estou com medo?

Minha resenha de Champion:
Todos os livros da trilogia Legend foram bem pesados para mim, já que a história tem complexidade e me deixava ansiosa quase o tempo inteiro. Nenhum deles deixou algo a desejar em nenhum momento. Do começo ao fim, tive a impressão de que a Marie Lu queria escrever a distopia perfeita, com os toques que atraem os fãs do gênero sem deixar de lado a realidade e a lógica. Ela conseguiu de verdade. Talvez só no final, os últimos dois capítulos desse livro tenham me deixado um pouco incerta.
Quer dizer, esse livro é como os outros, tenso do começo ao fim, com personagens incríveis, cuja evolução dá para ver desde o começo. Li mais da metade com um frio na barriga constante. Não sou de prever o final, mas já previa o mais absurdo e sofrido possível, provavelmente para não ter que sofrer demais quando chegasse. E, para falar a verdade, a Marie Lu me surpreendeu, sendo bem mais generosa (e irônica, vamos deixar claro) com o final. Por um lado, isso foi ótimo. Mas, como eu disse, acabei ficando um pouco incerta com a sua escolha.
Nada realmente ruim, nada que me faça querer tirar uma mísera (ou meia) estrela da nota. Para falar bem a verdade, não sei se eu teria feito diferente no lugar dela. É só que parece que ela trouxe uma última reviravolta no enredo para consertar uma coisa que, na minha opinião, nem precisava ser consertada (não durante a história). Para mim, se a história tivesse acabado antes do último capítulo, teria feito mais sentido. Seria mais doloroso, mas faria mais sentido.
A parte boa é que eu sou uma leitora, sou apaixonada pelos personagens e pelo casal principal dessa história e já estava pronta para aceitar qualquer final forçado que fosse feliz de verdade, nem que fosse de novela, cheio de gente grávida e casada (tá, não foi assim, nem de perto, mas né!). Ou seja, mesmo que o final não tão feliz tenha me deixado incerta sobre a escolha dela, não me incomoda, porque pelo menos me fez ficar um pouco mais calma e conformada sobre tudo.
Não sei como existem pessoas que gostam de distopias e ainda não leram esse livro. Ou de pessoas que simplesmente gostam de ler e ainda não chegaram a Legend. A Marie Lu merece muito mais reconhecimento do que tem. Esse livro teve dois dos protagonistas mais incríveis que já tive a chance de conhecer e vai ser difícil ser convencida por outros personagens daqui pra frente.

Muito obrigada, Marie Lu, por existir e por escrever. Vou seguir seus trabalhos para sempre! E seja bem-vinda à minha lista de escritores favoritos.

Os três livros já foram publicados aqui no Brasil pela Editora Rocco, a mesma editora que publicou Jovens de Elite, com a mesma capa para todos os livros! Se você ainda não leu nenhuma dessas trilogias, corre para colocar no topo da sua lista, você não vai se arrepender!
Se você já leu, quero saber sua opinião!
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